Cláudio Ribeiro - Demitri Túlio, do Jornal O Povo, de Fortaleza
A íris clara, azulzíssima em muitos deles, é a digital do povo Farrapo. Também é da identidade a pele branca avermelhada, carimbada pelo sol forte que não cessa em Sobral. Isso mais entre os que vivem na zona rural. Gostam de exaltar o sobrenome. É forte. Farrapo não é apelido. Não são uma etnia, mas são tratados assim. São “da raça dos Farrapos”, como nos disse quem os indicou a procurá-los.
Os Farrapos têm história a ser contada. Praticaram a endogamia por muito tempo. Casamentos em família, entre primos, mais gente do olho azul de céu que foi nascendo e esticando a linhagem. Sempre gostaram de negociar, trocar coisa velha. São um pouco reclusos. Vivem sob reminiscências de judaísmo.
Há estudo disso, mas muito ainda a ser (re)descoberto. Os Farrapos são citados, por exemplo, no livro do padre João Mendes Lira, Presença dos Judeus em Sobral e Circunvizinhanças e a Dinamização da Economia Sobralense em Função do Capital Judaico (Editora Companhia Brasileira de Artes Gráficas - 1988). A obra nasceu de uma palestra do religioso, já falecido, que foi escriba do ex-bispo sobralense dom José Tupinambá da Frota. Foi a fala dele num seminário no Rio de Janeiro, em 1988, quando o Estado de Israel completou 40 anos de fundação. A pesquisa genealógica do padre Lira é sempre lembrada em apurações sobre o nicho judaico de três séculos atrás investigado ali.
Não é correto dizer que os Farrapos são judeus, mas é errado desprezar esses rastros. Muitos dos próprios nem sabem, mas diz-se que essa gente toda descende de um português chamado Manuel da Costa Farrapo. Está no livro Cronologia Sobralense – Volume II (Imprensa Universitária - 1985), do padre Sadoc de Araújo, 78, reitor por 22 anos da Universidade Vale do Acaraú (UVA) em Sobral e pesquisador há mais de 50 sobre a ocupação da região.
Era o tal Manuel um senhor saído da Ilha dos Açores que um dia chegou à Ribeira do Acaraú. Havia a estrada de ferro Sobral-Camocim. Em Camocim ficava o principal porto da região Norte do Ceará Grande, nos anos de Brasil colônia. E Sobral detinha o principal centro comercial. Pelos trilhos transitava grande parte dessas mercadorias. Então, estimulava também a chegada de estrangeiros.
O portuga veio, por volta de 1720, e abancou-se na localidade, então chamada Várzea do Pinto. Hoje é onde fica o distrito de Bonfim, a cerca de 15 quilômetros de Sobral. É lá que está “a raça” Farrapo, seus descendentes. Há mais espalhados, claro, já na mistura com outros sobrenomes. Há núcleos de Muniz em Mucambo, Coreaú, Reriutaba, Varjota, cidades vizinhas. Mesma trilha.
“Quem daqui da região é Muniz é Farrapo”, ensina o funcionário público José Elder Alves Farrapo, 47. Tem a lógica dele. O principal argumento é o fato de ser filho de Argentino Alves Farrapo, 83, hoje o Farrapo mais antigo do Bonfim. E de acompanhar por onde o nome da família tem se espalhado. É uma história aberta.
DIFÍCIL NÃO NOTAR
O azulado dos olhos de Rogildo, seu Argentino e de dona Maria ressalta facilmente na foto ao lado. Na parede, mais registros familiares de outros descendentes da “raça” dos Farrapos do Bonfim.
PAPÉIS DA INQUISIÇÃO
Desenho da capa de uma publicação de 1596, de escritos religiosos da época da Inquisição em Lisboa. Do acervo do pesquisador Antônio Lourenço Caminha, arquivado na Biblioteca Nacional de Portugal.
A IMAGEM DO PAI
Fotopintura mostra Francisco Alves Farrapo, o Chico Farrapo, o pai de seu Argentino e dona Maria, montado no cavalo. O rosto é de um irmão, Antero, que morreu em 1957. Ambos moravam no Bonfim.
UMA COLHER NO CAMINHO
Colher holandesa (ao lado) encontrada numa das propriedades onde está o distrito de Bonfim. Diz a história que, com a expulsão holandesa de Pernambuco, no século XVIII, os judeus fugiram para o Ceará Grande.
A íris clara, azulzíssima em muitos deles, é a digital do povo Farrapo. Também é da identidade a pele branca avermelhada, carimbada pelo sol forte que não cessa em Sobral. Isso mais entre os que vivem na zona rural. Gostam de exaltar o sobrenome. É forte. Farrapo não é apelido. Não são uma etnia, mas são tratados assim. São “da raça dos Farrapos”, como nos disse quem os indicou a procurá-los.
Os Farrapos têm história a ser contada. Praticaram a endogamia por muito tempo. Casamentos em família, entre primos, mais gente do olho azul de céu que foi nascendo e esticando a linhagem. Sempre gostaram de negociar, trocar coisa velha. São um pouco reclusos. Vivem sob reminiscências de judaísmo.
Há estudo disso, mas muito ainda a ser (re)descoberto. Os Farrapos são citados, por exemplo, no livro do padre João Mendes Lira, Presença dos Judeus em Sobral e Circunvizinhanças e a Dinamização da Economia Sobralense em Função do Capital Judaico (Editora Companhia Brasileira de Artes Gráficas - 1988). A obra nasceu de uma palestra do religioso, já falecido, que foi escriba do ex-bispo sobralense dom José Tupinambá da Frota. Foi a fala dele num seminário no Rio de Janeiro, em 1988, quando o Estado de Israel completou 40 anos de fundação. A pesquisa genealógica do padre Lira é sempre lembrada em apurações sobre o nicho judaico de três séculos atrás investigado ali.
Não é correto dizer que os Farrapos são judeus, mas é errado desprezar esses rastros. Muitos dos próprios nem sabem, mas diz-se que essa gente toda descende de um português chamado Manuel da Costa Farrapo. Está no livro Cronologia Sobralense – Volume II (Imprensa Universitária - 1985), do padre Sadoc de Araújo, 78, reitor por 22 anos da Universidade Vale do Acaraú (UVA) em Sobral e pesquisador há mais de 50 sobre a ocupação da região.
Era o tal Manuel um senhor saído da Ilha dos Açores que um dia chegou à Ribeira do Acaraú. Havia a estrada de ferro Sobral-Camocim. Em Camocim ficava o principal porto da região Norte do Ceará Grande, nos anos de Brasil colônia. E Sobral detinha o principal centro comercial. Pelos trilhos transitava grande parte dessas mercadorias. Então, estimulava também a chegada de estrangeiros.
O portuga veio, por volta de 1720, e abancou-se na localidade, então chamada Várzea do Pinto. Hoje é onde fica o distrito de Bonfim, a cerca de 15 quilômetros de Sobral. É lá que está “a raça” Farrapo, seus descendentes. Há mais espalhados, claro, já na mistura com outros sobrenomes. Há núcleos de Muniz em Mucambo, Coreaú, Reriutaba, Varjota, cidades vizinhas. Mesma trilha.
“Quem daqui da região é Muniz é Farrapo”, ensina o funcionário público José Elder Alves Farrapo, 47. Tem a lógica dele. O principal argumento é o fato de ser filho de Argentino Alves Farrapo, 83, hoje o Farrapo mais antigo do Bonfim. E de acompanhar por onde o nome da família tem se espalhado. É uma história aberta.
DIFÍCIL NÃO NOTAR
O azulado dos olhos de Rogildo, seu Argentino e de dona Maria ressalta facilmente na foto ao lado. Na parede, mais registros familiares de outros descendentes da “raça” dos Farrapos do Bonfim.
PAPÉIS DA INQUISIÇÃO
Desenho da capa de uma publicação de 1596, de escritos religiosos da época da Inquisição em Lisboa. Do acervo do pesquisador Antônio Lourenço Caminha, arquivado na Biblioteca Nacional de Portugal.
A IMAGEM DO PAI
Fotopintura mostra Francisco Alves Farrapo, o Chico Farrapo, o pai de seu Argentino e dona Maria, montado no cavalo. O rosto é de um irmão, Antero, que morreu em 1957. Ambos moravam no Bonfim.
UMA COLHER NO CAMINHO
Colher holandesa (ao lado) encontrada numa das propriedades onde está o distrito de Bonfim. Diz a história que, com a expulsão holandesa de Pernambuco, no século XVIII, os judeus fugiram para o Ceará Grande.
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