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Mostrando postagens de outubro 25, 2008

De que real é esta crise o espectáculo?

Por Alain Badiou, publicado originalmente no Le Monde Tal qual nos é apresentada, a crise planetária das finanças parece-se com um desses maus filmes produzidos pela fábrica de sucessos pré-fabricados que chamamos hoje de cinema. Nada falta, incluindo as aparições que aterrorizam: é impossível impedir a sexta-feira 13, tudo desmorona, tudo vai desmoronar... Mas a esperança permanece. Diante da cena, aterrorizados e concentrados como num filme-catástrofe, a pequena quadrilha de poderosos, os bombeiros do fogo monetário, os Sarkozy, Paulson, Merkel, Brown e outros Trichet, gastam milhares de milhões. "Salvar os bancos!". Esse nobre grito humanista e democrático surge de todas as gargantas políticas e mediáticas. Para os actores principais do filme, ou seja, os ricos, os seus servidores, os seus parasitas e todos aqueles que os incensam, um final feliz, eu creio, eu sinto, é inevitável, levando em conta o que eles são hoje e o mundo, e os políticos que os cercam. Voltemo-nos an

Crime (financeiro) contra a humanidade

Do Caderno de Saramago Pensava escrever no blog sobre a crise económica que nos lançaram para cima quando tive que me dedicar a cumprir um compromisso com outros meios de comunicação. Deixo aqui o que penso e que já foi publicado em Espanha, no jornal Público, e em Portugal, no semanário Expresso. Crime (financeiro) contra a humanidade A história é conhecida, e, nos antigos tempos de uma escola que a si mesma se proclamava como perfeita educadora, era ensinada aos meninos como exemplo da modéstia e da discrição que sempre deverão acompanhar-nos quando nos sintamos tentados pelo demónio a ter opinião sobre aquilo que não conhecemos ou conhecemos pouco e mal. Apeles podia consentir que o sapateiro lhe apontasse um erro no calçado da figura que havia pintado, porquanto os sapatos eram o ofício dele, mas nunca que se atrevesse a dar parecer sobre, por exemplo, a anatomia do joelho. Em suma, um lugar para cada coisa e cada coisa no seu lugar. À primeira vista, Apeles tinha razão, o mestre

Pesadelo do 24 de outubro de 1929 volta a assombrar 79 anos depois

PARIS (AFP) — Setenta e nove anos depois do 24 de outubro de 1929, a célebre "quinta-feira negra", as praças financeiras de todo o mundo revivem neste 24 de outubro de 2008 o pesadelo de uma crise financeira que contamina progressivamente toda a economia. No dia 24 de outubro de 1929 a Bolsa de Nova York quebra, ao não encontrar comprador para 13 milhões de ações. No dia 24 de outubro de 2008, os mercados desabaram mais uma vez, acumulando perdas, na maioria dos casos, superiores a 45% desde o começo do ano. O 24 de outubro de 1929 esteve marcado pelo pânico dos investidores. No meio do dia, o índice Dow Jones Industrial Average (DJIA) perdia 22,6%. Conta-se que, ao final da manhã, já haviam se suicidado 11 especuladores atirando-se ao vazio a partir de arranha-céus de Manhattan. Houve um pequeno alívio em seguida, que durou pouco, porque Wall Street voltou a desabar nos dias 28 e 29 de outubro. Só nesse mês suas perdas totalizavam 30%; em novembro seguinte, a Bolsa de Nova Y

Noam Chomsky: A cara antidemocrática do capitalismo

Carta Capital Pode ser que a paixão pela campanha não seja uma coisa universalmente compartilhada, mas quase todo mundo pode perceber a ansiedade desencadeada pela execução hipotecária de um milhão de residências, assim como a preocupação com os riscos que correm os postos de trabalho, as poupanças e os serviços de saúde. As propostas iniciais de Bush para lidar com a crise fediam a tal ponto a totalitarismo, que não tardaram a ser modificadas. Sob intensa pressão dos lobbies, foram reformuladas “para o claro benefício das maiores instituições do sistema... uma forma de desfazer-se dos ativos sem necessidade de fracassar ou quase”, segundo descreveu James Rickards, que negociou o resgate federal por parte do fundo de cobertura de derivativos financeiros Long Term Capital Management em 1998, lembrando-nos de que estamos caminhando em terreno conhecido. As origens imediatas do desmoronamento atual estão no colapso da bolha imobiliária supervisionada pelo presidente do Federal Reserve, Al