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Mostrando postagens de agosto 30, 2008

Crônica de Rubem Alves: Sobre ciência e sapiência

Muitas pessoas não gostam do que escrevo. Dizem que o que eu faço não é ciência; é literatura. É verdade. Faz tempo que me mudei da caixa de ferramentas para a caixa dos brinquedos. O que me aborrece é que esses que não gostam do que escrevo pensam que somente a ciência tem dignidade acadêmica. Houve mesmo o caso de uma candidata ao mestrado que teve seu projeto recusado por me citar demais e por propor um assunto que não era científico. Psicóloga e pedagoga ela sabia por experiência própria do poder do olhar. Há tantos olhares diferentes! Há o olhar de desprezo, de admiração, de ternura, de ódio, de vergonha, de alegria... A mãe encosta o filhinho na parede e, a um metro de distância, lhe estende os braços e diz sorrindo: “Vem”. Encorajada pelo olhar a criança, que ainda não sabe andar, dá seus primeiros passos. Há olhares que dão coragem. E há olhares que destroem. Aquele olhar terrível da professora que olha para a criança de um certo jeito, sem nada dizer. Mas a criança entende o q

O rei e o sábio

Havia um rei que, apesar de ser extremamente rico, tinha a fama de ser um grande doador, desapegado da sua riqueza. Quanto mais doava para cuidar dos seus súditos, tanto mais os cofres do seu fabuloso palácio enchiam. Um dia, um sábio que estava passando por muitas dificuldades procurou o rei para descobrir seu segredo. Ele pensava: - Como o rei, que não é versado nas sagradas escrituras e não leva uma vida de penitência e renúncia, pode viver cercado por tantas riquezas materiais e ainda assim não ficar “contaminado” por elas? Eu, que renunciei ao mundo e conheço todos os Vedas(livros sagrados), tenho tantos problemas, e ele é virtuoso e amado por todos. Ao chegar na frente do rei, perguntou-lhe qual era o segredo de viver daquela forma. O rei respondeu: - Acenda uma lamparina e passe por todas as dependências do palácio, assim o Senhor vai descobrir meu segredo. Porém, há uma condição: se o Senhor deixar que a chama se apague, cairá morto. Desse modo, o sábio visitou todas as salas e

Canção do Divino Mestre

Aquele que não inveja; que é amigo sincero de todos os seres vivos; que não tem senso de posse; que está livre do egoísmo; que tem a mesma atitude na tristeza ou na alegria; que está sempre satisfeito, servindo com devoção; que é sempre determinado tendo a mente e o intelecto harmonizados comigo; é muito querido a mim. Quem nunca perturba os outros nem se deixa perturbar, além da dualidade do sofrimento e prazer ,livre do medo e da angustia, também é muito querido. Aquele que não se apega nem ao prazer nem a dor, que não rejeita ou deseja, renunciando igualmente ao que agrada ou aborrece, é muito querido a Mim. Quem age do mesmo modo com amigos e inimigos, e não muda de atitude no ostracismo ou na glória, no sucesso ou no fracasso; quem nunca se contamina; quem está sempre contente, com tudo que lhe oferecem; quem está sempre ocupado em servir com devoção – este Me é muito querido. Quem trilha pelo caminho do serviço em devoção, e faz de Mim sua meta é muito querido a Mim.

Sentido das palavras

Um homem doou uma moeda de prata a quatro pessoas. Uma delas, um persa, disse: Com esta moeda, quero comprar angur. O segundo, um árabe, exclamou: Que insensato, não vamos comprar angur. Vamos comprar inab. O terceiro era turco e disse: Esta moeda é minha também e não quero nem inab, nem angur. Quero uzum. O quarto, um grego, não se conformou: Calem-se todos. Com esta moeda compraremos isratil. Começaram a brigar entre eles porque ignoravam o verdadeiro sentido das palavras. Esbofetearam-se, insultaram-se, até que chegou ali um homem sábio e que conhecia muitas línguas. Ele lhes disse: Dêem-me esta moeda e confiem em mim. Com ela comprarei algo que satisfará a todos vocês. Sem opção melhor, eles lhe entregaram a moeda. O homem sábio foi ao mercado. Com a moeda comprou uma boa porção de uvas que entregou aos quatro briguentos. Todos ficaram satisfeitos vendo seu próprio desejo realiza