Raphael Bruno, Jornal do Brasil
BRASÍLIA - Embalada pelos embates entre PT e PMDB nas eleições municipais e na disputa pelas presidências da Câmara e do Senado, a oposição já monta a estratégia para tentar atrair o PMDB para seus braços na sucessão presidencial de 2010.
A tarefa, contudo, não promete ser fácil, e envolve desde a promoção do desgaste da aliança entre os dois partidos, hoje parceiros no governo federal, até o apaziguamento de peemedebistas que, animados com o crescimento do partido, sonham com a candidatura própria ao Planalto.
No jogo de xadrez que promete ser a disputa pela Presidência em 2010, a oposição já moveu, nestas eleições municipais, as primeiras peças em busca do retorno ao Palácio do Planalto.
Apesar de DEM, PSDB e PPS saírem das urnas administrando menos prefeituras do que quando entraram, em cidades de peso, como São Paulo, Porto Alegre e Salvador, alianças entre o PMDB e partidos de oposição derrotaram candidatos do PT no segundo turno.
O PMDB paulista fechou ainda no início da campanha apoio ao prefeito Gilberto Kassab (DEM), reeleito no segundo turno com vitória sobre a ex-ministra Marta Suplicy (PT).
Em Porto Alegre, o atual prefeito, José Fogaça (PMDB), contou com o apoio dos candidatos derrotados no primeiro turno Onyx Lorenzoni (DEM) e Nelson Marchezan Júnior (PSDB), para superar a petista Maria do Rosário no segundo.
Rota de colisão
Em Salvador, apesar do apoio do tucano Antônio Imbassahy ao candidato do PT no segundo turno, Walter Pinheiro, foi a força eleitoral do líder do DEM na Câmara, ACM Neto, quem decidiu as eleições.
Após obter 26,68% dos votos válidos no primeiro turno e ficar de fora do segundo por pequena margem, o democrata embarcou na vitoriosa campanha de João Henrique (PMDB).
A eleição na capital baiana foi o palco, ainda, de um dos mais graves focos de tensão entre PT e PMDB, com o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), disparando críticas pesadas aos peemedebistas na reta final da campanha.
– O PMDB entrou em rota de colisão com o PT em várias cidades – constata o líder do DEM no Senado, José Agripino (RN).
– E na base do governo recebe tratamento de segunda classe. Queremos esta expectativa de aliança, que deu certo nestas cidades, para o futuro. É pensamento para 2010.
– Muitos quadros do PMDB têm história próxima a nós – acrescenta o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra.
– Temos alianças em vários estados. E é sempre mais fácil negociar com a gente do que com o PT, que já mostrou por diversas vezes a dificuldade que tem em ceder espaço.
Do ponto de vista da oposição, as eleições serviram também para mostrar ao PMDB que, mesmo no auge da popularidade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não consegue eleger quem bem entender.
O dado tem impacto duplo. Ao mesmo tempo em que coloca dúvidas sobre a capacidade do presidente em alavancar a candidatura à Presidência da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, amplia o favoritismo atual do governador de São Paulo, José Serra (PSDB).
– Hoje meu grupo é minoritário dentro do PMDB – admite o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), um dos poucos peemedebistas que ainda resistem à integrar a base do governo.
– Mas com esse enfraquecimento da candidatura de Dilma, e com o crescimento da candidatura de Serra, o PMDB tende, dentro do seu pragmatismo, a apoiar o governador em 2010.
O fator Serra
Até mesmo peemedebistas que não enxergam motivos para maiores alardes nos recentes entraves na relação entre o partido e o PT avaliam que a força de Serra, aliada a outros fatores, pode jogar o PMDB para o lado da oposição em 2010.
É o caso do deputado federal Marcelo Guimarães (PMDB-BA), que mesmo classificando a troca de artilharia pesada entre o PT e o PMDB baianos como mera “questão pontual”, não nega a possibilidade do partido rever suas alianças diante de um cenário eleitoral adverso ao atual governo.
– Defendo a posição, hoje majoritária no PMDB, de continuar caminhando com Lula. Mas em 2010 vamos conversar com todo mundo – diz Guimarães.
– Não podemos desprezar a capacidade eleitoral dos candidatos, e nem as propostas que serão apresentadas por cada um. O governo vai enfrentar uma crise financeira muito grande e é preciso avaliar em que medida isso vai afetar a continuidade do sucesso de seu modelo.
Para azedar ainda mais a relação entre PT e PMDB, antes mesmo das feridas abertas entre os dois partidos nas eleições cicatrizarem, nova rusga se abriu com o processo de sucessão das presidências da Câmara e do Senado.
O PMDB exige o cumprimento de acordo com o PT e a entrega do comando da Câmara ao presidente nacional do partido, Michel Temer (SP), ao mesmo tempo que não abre mão de prerrogativa regimental do Senado que também lhe garantiria a indicação do presidente da casa.
– É legítimo que o PMDB vislumbre a presidência das duas casas – completa o parlamentar, antecipando que se o PT não ceder espaço agora pode desgastar ainda mais a relação entre os dois partidos.
- Se isso não for bem conduzido, se o PT não souber medir a importância do PMDB, isso pode sim vir a afetar a relação com o governo federal, tanto no que diz respeito à votação de projetos de interesse do governo quanto para 2010.
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