Isto É - Sérgio Pardellas
Em poucas áreas de atuação o estigma de uma doença pesa tanto como na política. Ao revelar que passa por um tratamento contra um linfoma, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff , aceitou se expor a uma dose dupla desse preconceito. Como se não bastasse estar doente, Dilma ousou assumir que sofre de câncer em plena pré-campanha à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas, mesmo em seu ato de coragem, no sábado 25, a ministra preferiu usar os termos "linfoma" ou "essa doença". Segundo especialistas em marketing eleitoral ouvidos por ISTOÉ, depois de ganhar a confi ança de Lula e vencer as resistências dentro do PT e entre os partidos da base governista, agora Dilma terá que superar o que poderá ser o seu maior obstáculo: o estigma político da doença.
"A saúde da ministra passará a ser permanentemente questionada, antes e durante uma eventual campanha, até porque um diagnóstico defi nitivo só pode ser dado em dois anos", avalia o cientista político Antonio Lavareda. "Ao mesmo tempo que a doença humaniza a candidata, a torna mais vulnerável porque vai sempre suscitar a interrogação na cabeça das pessoas sobre se ela tem condições de assumir o País." A primeira sessão de quimioterapia da ministra está prevista para o dia 9. Durante quatro meses, o procedimento será repetido a cada três semanas. Como o seu organismo irá reagir ao tratamento é uma incógnita.
No Brasil, é tradição os políticos esconderem uma doença grave antes das eleições. Tancredo Neves, por exemplo, escondeu até o fi m a existência de um tumor, devido ao impacto que a palavra câncer poderia provocar à época. De forma dramática, a doença o impediu de assumir a Presidência da República. O tucano Mário Covas, que morreu em 2001 com câncer na bexiga, afi rmou que descobriu a doença depois de reeleito governador de São Paulo, em 1998. Muitos políticos ainda passam por tratamentos de quimioterapia em sigilo absoluto. "Não conheço caso em que o fato de a pessoa ser doente a ajude a vencer eleição. Pelo contrário", disse à ISTOÉ o sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi, Marcos Coimbra. "Câncer não ajuda ninguém. É melhor não ter", afirma o ministro de Comunicação Social do governo, Franklin Martins.
NA POLÍTICA, UM TEMA DELICADO
Em poucas áreas de atuação o estigma de uma doença pesa tanto como na política. Ao revelar que passa por um tratamento contra um linfoma, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff , aceitou se expor a uma dose dupla desse preconceito. Como se não bastasse estar doente, Dilma ousou assumir que sofre de câncer em plena pré-campanha à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas, mesmo em seu ato de coragem, no sábado 25, a ministra preferiu usar os termos "linfoma" ou "essa doença". Segundo especialistas em marketing eleitoral ouvidos por ISTOÉ, depois de ganhar a confi ança de Lula e vencer as resistências dentro do PT e entre os partidos da base governista, agora Dilma terá que superar o que poderá ser o seu maior obstáculo: o estigma político da doença.
"A saúde da ministra passará a ser permanentemente questionada, antes e durante uma eventual campanha, até porque um diagnóstico defi nitivo só pode ser dado em dois anos", avalia o cientista político Antonio Lavareda. "Ao mesmo tempo que a doença humaniza a candidata, a torna mais vulnerável porque vai sempre suscitar a interrogação na cabeça das pessoas sobre se ela tem condições de assumir o País." A primeira sessão de quimioterapia da ministra está prevista para o dia 9. Durante quatro meses, o procedimento será repetido a cada três semanas. Como o seu organismo irá reagir ao tratamento é uma incógnita.
No Brasil, é tradição os políticos esconderem uma doença grave antes das eleições. Tancredo Neves, por exemplo, escondeu até o fi m a existência de um tumor, devido ao impacto que a palavra câncer poderia provocar à época. De forma dramática, a doença o impediu de assumir a Presidência da República. O tucano Mário Covas, que morreu em 2001 com câncer na bexiga, afi rmou que descobriu a doença depois de reeleito governador de São Paulo, em 1998. Muitos políticos ainda passam por tratamentos de quimioterapia em sigilo absoluto. "Não conheço caso em que o fato de a pessoa ser doente a ajude a vencer eleição. Pelo contrário", disse à ISTOÉ o sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi, Marcos Coimbra. "Câncer não ajuda ninguém. É melhor não ter", afirma o ministro de Comunicação Social do governo, Franklin Martins.
NA POLÍTICA, UM TEMA DELICADO
TANCREDO NEVES
Temia a divulgação de um tumor benigno porque poderia ser confundido com câncer e queria adiar a a primeira operação de diverticulite para depois da posse, com receio de uma crise institucional.
Temia a divulgação de um tumor benigno porque poderia ser confundido com câncer e queria adiar a a primeira operação de diverticulite para depois da posse, com receio de uma crise institucional.
MÁRIO COVAS
Revelou um câncer na bexiga em dezembro de 1998, ao ser reeleito governador de São Paulo. Depois de divulgada a notícia, passou a enfrentar a doença e pediu a assessores para não esconderem nada.
ROSEANA SARNEY
Antes da reeleição ao governo do Maranhão, em 1998, revelou que tinha câncer no pulmão. Em 2002, durante campanha à Presidência da República, ela admitiu outro câncer, desta vez nas mamas.
O preconceito em relação ao câncer, de fato, ainda é grande no Brasil. Pesquisa recente feita pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca) confi rmou que o estigma da doença permanece. Ao responder à pergunta "Quando você pensa em câncer, qual é a palavra que vem a sua cabeça?", a maioria dos entrevistados usou termos que remetem à morte e a emoções negativas, como tristeza, dor, medo e maldição. Na opinião de Lavareda, além do preconceito, pesa contra Dilma outra variável: ela ainda ser pouco conhecida pela maioria dos eleitores. "Antes, poderiam apresentá-la apenas como a gerentona do PAC. Agora, vão conhecê-la também como uma pessoa que tem um problema de saúde", disse.
"Não conheço caso em que o fato de a pessoa ser doente a ajude a vencer eleição. Pelo contrário"
O preconceito em relação ao câncer, de fato, ainda é grande no Brasil. Pesquisa recente feita pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca) confi rmou que o estigma da doença permanece. Ao responder à pergunta "Quando você pensa em câncer, qual é a palavra que vem a sua cabeça?", a maioria dos entrevistados usou termos que remetem à morte e a emoções negativas, como tristeza, dor, medo e maldição. Na opinião de Lavareda, além do preconceito, pesa contra Dilma outra variável: ela ainda ser pouco conhecida pela maioria dos eleitores. "Antes, poderiam apresentá-la apenas como a gerentona do PAC. Agora, vão conhecê-la também como uma pessoa que tem um problema de saúde", disse.
"Não conheço caso em que o fato de a pessoa ser doente a ajude a vencer eleição. Pelo contrário"
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