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Haiti e perplexidade. Por que Obama convocou Bush?


Wálter Fanganiello Maierovitch

O presidente Barack Obama (democrata) convocou os ex-presidentes George W. Bush (republicano) e Bill Clinton (democrata) e confiou-lhes as tarefas de recolhimento de doações e fiscalização de um fundo destinado a ajudar o Haiti: ClintonBushHaiti.Fund.Org

W.Bush não escondeu um sorriso irônico ao retornar sábado passado à Casa Branca, depois da sua saída em 20 de janeiro de 2009.

Atrás desse sorriso estava a sensação de ser copiado por Obama. Também a lembrança de ter Obama, quando da campanha presidencial, criticado duramente a sua atuação na tragédia provocada em Nova Orleans pelo furacão Katrina, em agosto de 2005 e com 2 mil mortos.

Para socorrer as vítimas do Katrina e reconstruir Nova Orleans, o então presidente W.Bush constituiu, depois de vacilações e insensibilidades, um fundo para doações e convocou para a coleta, fiscalização e gestão, os seus antecessores, Bill Clinton e Bush sênior.

Essa fórmula já havia sido adotada anteriormente por W. Bush. Isto em 2004 e por ocasião do tsunami que, na Indonésia, causou 203 mil mortes. Clinton e Bush sênior comandaram o fundo.

Na verdade, não percebeu o trapalhão W. Bush a habilidade e a agilidade de Obama diante da catástrofe haitiana.

O presidente Obama comemorou o primeiro aniversário do seu governo debaixo de intenso fogo cruzado dos republicanos e da ultradireita. Foram explorados temas como a crise econômica, a luta contra o terrorismo, as situações no Afeganistão e Paquistão, a reforma de saúde, etc.

Para não personalizar as ações, não afastar doadores e calar os republicanos e a ultradireita, Obama convocou o republicano W. Bush e o companheiro Bill Clinton. Este último mantém fortes vínculos com o Haiti desde 1975, quando visitou a ilha com a esposa Hillary. Em 1995, Clinton apoiou a recolocação de Jean-Bertrand Aristide no cargo de presidente, depois de afastado por golpe de Estado militar em 1991: Aristide havia vencido a primeira eleição livre no Haiti, em 16 de novembro de 1990. De se frisar, ainda, que em 1998 a então primeira-dama, Hillary Clinton, participou de uma missão de ajuda ao Haiti e, a partir daí, estabeleceu fortes laços de amizade com René Garcia Preval, agora presidente do Haiti e no cargo desde 14 de maio de 2006.

Os radicais norte-americanos, pelas vozes do radialista Rush Limbaugh e do pastor Pat Robertson, criticaram pesadamente Obama.

Quanto ao fundo de auxílio, Rush disse que os americanos já pagavam tributos e não era correto o chamamento para oferecerem donativos: no jornal The New York Times de ontem encontra-se a advertência da pouca generosidade americana, que, ao Haiti, oferece ajuda inferior à conferida pela Noruega, Bélgica e Luxemburgo.

Segundo o pastor Pat Roberson, o terremoto no Haiti foi castigo de Deus, num país que fez pacto com o diabo e usa o rito vodu.

Pano Rápido. Com a constituição do fundo de auxílio, Obama neutralizou os opositores, ou seja, os ex-presidentes W. Bush e Clinton foram convocados como peças de estratégia politicamente correta. A vanglória de W. Bush é míope, como era de se esperar.

Enquanto isso, o presidente da União Europeia (o turno é da Espanha) e a recém-eleita ministra de Relações Exteriores, a baronesa Catherine Ashton, tentarão, hoje e em reunião com os representantes membros, dar unidade ao trabalho de auxílio ao Haiti. Isto porque nove estados membros já tomaram iniciativas isoladas.

A França, por exemplo, convocou uma conferência para tratar do tema Haiti para março próximo, numa tentativa do seu presidente de protagonismo na política internacional.

Wálter Fanganiello Maierovitch

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