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O PC soviético, o PSDB e FHC

Clóvis Rossi

SÃO PAULO - O PSDB age, em relação a Fernando Henrique Cardoso, como o Partido Comunista da extinta União Soviética: lá, os dirigentes caídos em desgraça eram apagados das fotos oficiais, por mais relevantes que tivessem sido os cargos por eles ocupados.
Aqui, a imagem de FHC é apagada (no sentido de não exibida) de toda e qualquer propaganda eleitoral desde que terminou o seu mandato, exatamente o mais relevante jamais conquistado pelo partido.
Parece uma paródia da frase ("esqueçam o que eu escrevi") que se atribui ao ex-presidente, mas que ele nega ter pronunciado. No caso do PSDB, fica "esqueçam que ele existiu" -exatamente como os comunistas de antanho faziam até com amigos de infância quando caíam em desgraça.
Confesso que eu acreditei na sabedoria convencional tucana segundo a qual FHC tira votos. Afinal, se quem é do ramo tem tanta certeza disso, eu, que não entendo nada de disputar eleições, não tenho o direito de duvidar.
Por isso mesmo, fiquei curioso com um dado da pesquisa Datafolha sobre a disputa pelo Senado em São Paulo, divulgada ontem: Aloysio Nunes Ferreira Filho foi o único dos tucanos candidatos a cargos majoritários (Senado, no caso dele) que subiu. Pulou de 5% para 9%.
O que tem a ver Aloysio com FHC? Tudo. Foi o único tucano que desafiou a sabedoria convencional e tascou fala do ex-presidente no horário de propaganda eleitoral. Suspeito até que foi o único a fazê-lo em todo o país.
OK, é um dado muito, mas muito, preliminar para se concluir que a sabedoria convencional é equivocada. De todo modo, está claro que não deu certo "apagar" quem foi parte da história do partido -a mais relevante, de resto.
O PSDB perdeu todas e, agora, corre até o risco de se tornar tão irrelevante como o PC soviético do qual copiou o método.

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