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Não só de ventos vive uma tempestade


* Moisés Diniz

Nesse feriado de Natal, sonolento, encantado, festivo, ora chuva, ora sol, barulho de crianças, ressaca, saudades de tanta gente, decidi escrever umas linhas sobre nós mesmos, sobre a Frente Popular.

A “quase” derrota da Frente Popular não foi um incidente qualquer, foi um desmoronamento de longo alcance e exige respostas. A da moda é culpar quem está no comando do governo, no caso Binho Marques.

Nós quase perdemos para o “time de reserva da oposição” e com os nossos melhores jogadores. Essa eleição foi a nossa ponte do Caeté!

Nós perdemos na capital e nos municípios de asfalto velho, aonde foram feitos os principais investimentos de 12 anos de governo da Frente Popular, incluindo as fábricas do Alto Acre e a Estrada do Pacífico.

Vencemos no caminho do asfalto novo, com a ajuda de 4 pontes. O povo, assim, demonstra ter votado contra o cansaço e a mesmice, aqui pelas bandas da capital. Aonde a obra é velha ela precisa de encanto, de diálogo, de barulho, de brilho.

Aonde a obra é nova ela vence sozinha e ganha de goleada como foi de Feijó pra lá. Assim, fica fácil esclarecer que há respostas que não cabem em duas realidades distintas. Binho era governador daqui e do Juruá, aqui perdemos, lá ganhamos.

Nas duas realidades era o mesmo governo, as mesmas “caras velhas”, a mesma hegemonia nos espaços de poder, a mesma “boçalidade” de alguns, a mesma dedicação de muitos, os mesmos erros e mesmos acertos. Ponto.

É preciso olhar para a história. Não adianta querer explicar uma derrota com variáveis tortas, de época, fora de linha, porque, lá na frente, a tempestade volta.

A Frente Popular perdeu parte do seu encanto. O que mais dói é saber que nós estamos perdendo o charme, o brilho da mudança e da luta por melhores condições de vida para o povo acreano.

Continuamos a realizar as mesmas coisas boas, até mais robustas, mas sumiu o charme, a atração do amor primeiro.

Só a democracia interna, o debate, a inclusão real do povo serão capazes de tirar a fuligem que cobriu nossa imagem.

Nós precisamos reconquistar o amor popular, a paixão dos mais pobres, o encanto da mudança, a simpatia de quem nos faz oposição, o charme das boas utopias.

E corrigir os erros, sem expulsar, sem demonizar, sem personalizar. A culpa é coletiva, porque todos nós temos um pedaço de poder, para decidir, contestar, sugerir, informar.

Da velha Frente Popular nascerá uma nova, com os seus mesmos homens e mulheres. Estamos indo ao médico, fazendo exames, deixando vícios, fazendo novas caminhadas, corrigindo desvios.

A Frente Popular tem vigor guardado, energia de reserva e tempo para recomeçar e abraçar as novas utopias. Será como uma mulher que se cuida e surpreende aqueles que a achavam velha e sem graça.

Será como um homem que descobre que está perdendo a sua amada, encantado por falsos amores e decide reconquistar cada pedaço do terreno, com vontade férrea e muita ternura.

Nós só precisamos de amor, de atenção, transparência, radicalizar na honestidade, simplicidade, participação popular, mais dedicação, democracia. Parece muito, mas nós sabemos, porque já fizemos, o caminho de volta das nossas utopias.

MOISÉS DINIZ é deputado estadual pelo PC do B

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