O gaúcho João Cândido Felisberto, o Almirante Negro, líder da “Revolta da Chibata” - que no ano passado completou 100 anos - esteve no Acre em 1903 (a bordo do navio Juthaí) e pode ter lutado ao lado de Plácido de Castro.
Segundo consta na página 139, da Moderna Enciclopédia Brasileira, o líder dos marujos, que em 1910 se rebelaram contra os castigos físicos na Marinha, teria participado, como voluntário, da Revolução Acreana.
A informação parece fazer sentido, pois em entrevista concedida pelo próprio João Cândido ao historiador Hélio Silva, em março de 69, poucos meses antes de sua morte, ele assim afirmou:
“(...) eu vi quando ele (General Pando) passou no navio gaiola, prisioneiro dos patriotas de Plácido de Castro na chamada Boca do Acre, ponto estratégico. Era onde estavam as tropas federais. Eu vi quando ele passou no navio gaiola, prisioneiro tanto da Marinha quanto do Exército, comandadas pelo General Gabino Besouro, ex-governador de Alagoas”.
Na Revolta da Chibata, cansados de tantos maus tratos, os marujos se insubordinaram, tomaram o comando dos navios de guerra e apontaram seus canhões para o centro do Rio de Janeiro, então sede do Governo Federal. Eles exigiam simplesmente que fossem tratados como homens e não como animais.
Durante quatro dias, as bandeiras vermelhas dos rebeldes tremularam nos mastros dos navios. A frota comandada por João Cândido tinha 2.379 marinheiros. Acuado, o Congresso Nacional aprovou a anistia dos revoltosos e o fim dos castigos corporais dentro da Marinha.
Mas o acordo não passava de uma estratégia para conter o movimento. Ao deixarem os navios, todos os marinheiros foram presos. João Cândido foi então mandado para a “Ilha das Cobras” e muitos de seus companheiros, mais de 200, foram enviados para cumprirem pena de “degredo” no Acre, onde foram escravizados por seringalistas.
Ironicamente, por mero capricho da história, a terra que o combativo Almirante Negro pode ter ajudado a tornar-se parte do Brasil acabou se transformando, poucos anos depois, no túmulo de seus companheiros de movimento.
Comentários
Gostaria de agradecer por tornar conhecimento deste fato histórico que até então me era desconhecido.
"Glória aos piratas, às mulatas, às sereias,
Glória à farofa, à cachaça, às baleias,
Glória a todas as lutas inglórias
Que através da nossa história
Não esqueceram jamais..."
Parabéns!