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As cores da crise

Fernando Canzian


WASHINGTON - O dia foi de novo caos nos EUA, e as perdas agora começam a migrar com mais força do mercado bancário para a economia não-financeira.

As ações da General Motors caíram 31% na quinta, a maior baixa em 58 anos. O índice da Bolsa de Nova York que mede com mais precisão a economia como um todo, o S&P 500, apresentou nos últimos sete pregões a maior perda desde 1937.

Vale a pena repetir o mantra sobre a gravidade dessa crise.

Ela é uma crise de crédito, do fim da farra do crédito que tirou os EUA rapidamente da recessão de 2000 e que levou o mundo, nos últimos cinco anos, ao seu período mais exuberante em três décadas.

Um crescimento bancado por um sistema furado, em que um único dólar em créditos a receber nos bancos lastreava até outros US$ 13 em empréstimos. O sistema girava no vazio, que agora suga grandes bancos, mutuários e consumidores para a falência.

Mais de três quartos do PIB dos EUA vêm do consumo, que é movido a crédito. E ele agora secou até para empresas que faturam bilhões.

Mesmo que os trilhões anunciados pelos governos centrais comecem finalmente a irrigar o mercado, os consumidores norte-americanos e os bancos que os financiam estão endividados até o pescoço. Aliás, nunca deveram tanto em suas vidas.

Isso vai levar muito tempo para ser resolvido, especialmente dentro de um quadro recessivo.

É isso que começa a ser completamente entendido.

*
O FMI (Fundo Monetário Internacional) divulgou ontem uma série de mapas que dão uma boa idéia do alcance e da evolução da crise que está sacudindo os mercados mundiais.

São três grupos de mapas, reproduzidos abaixo.

No primeiro deles, a evolução do stress financeiro entre 2006 e 2008, quando o mundo passou da calmaria (verde) para a turbulência (vermelho) em apenas três anos.

No segundo grupo de mapas, a tendência de crescimento mundial entre 2006 e 2009, quando o planeta passará de uma fase quente de crescimento (vermelho) para um esfriamento cada vez maior (azul, em referência a gelo).

Note que o Brasil vai na contramão do resto do mundo até 2008, quando ainda estará quente (crescendo previstos 5,2%). Em 2009, esfriará um pouco (3,5% previstos), mas crescerá bem mais do que EUA, vários países europeus e Canadá. O curioso é que o patinho feio do mundo, a África, continuará quente (vermelho) no ano que vem.

Por fim, um único mapa com o impacto, em cada país, dos preços elevados do petróleo e dos alimentos.


Fernando Canzian, 42, é repórter especial da Folha. Foi secretário de Redação, editor de Brasil e do Painel e correspondente em Washington e Nova York. Ganhou um Prêmio Esso em 2006.Escreve às segundas-feiras.


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