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O rosto rechonchudo e risonho do ministro Geddel Vieira Lima, da Integração Nacional, é a melhor tradução para o atual momento do PMDB. O partido foi o grande vencedor das eleições municipais. Com 18 milhões de votos no primeiro turno e 4 milhões no segundo – números muito maiores que os da concorrência –, o PMDB conquistou 1 201 prefeituras, incluindo seis capitais. Juntos, os orçamentos dessas cidades alcançam 48 bilhões de reais.
A cifra é apenas uma parte do império peemedebista, que inclui ainda 296 bilhões de reais dos governos estaduais e federal. Se o PMDB fosse um país, seu PIB seria de 344 bilhões de reais, igual ao do Chile. O partido gosta de aplicar a dinheirama em obras de visibilidade, que ajudam a legenda a ganhar ainda mais votos – e mais recursos para administrar. É o ciclo da política peemedebista. Por isso, esqueça saneamento básico e prioridades afins. Sabe como é, coisas que ficam debaixo do chão não costumam render vitória nas urnas.
Se o PMDB terá um pibão para gastar, o sorridente Geddel terá seu próprio pibinho. Ele elegeu 114 prefeitos em seu estado, a Bahia, incluindo o de Salvador. A soma dos orçamentos dessas cidades com o de seu ministério dará a ele influência sobre 16 bilhões de reais. Além disso, 35% do eleitorado baiano vive em cidades que serão administradas por seus aliados. Com tanto poder e influência, Geddel multiplicou seu peso – calma, o eleitoral.
"Ele foi o integrante do partido que mais encorpou nas urnas", avalia Michel Temer, presidente da legenda. O momento dourado de Geddel faz com que ele seja apontado pelos baianos como "o novo ACM", em referência a Antonio Carlos Magalhães, morto em 2007, que, por mais de quarenta anos, mandou na política do estado. Geddel detesta a comparação (seu pai saiu no tapa com ACM em 1983), mas, claro, adora ser visto como o político mais poderoso da Bahia.
O aumento de forças colocou Geddel – assim como todo o PMDB – diante de um dilema: o que fazer em 2010, quando serão eleitos os próximos governadores e o presidente da República? Como o PMDB não tem entre seus quadros inchados um nome com densidade eleitoral para disputar o Planalto, o jeito é fazer como sempre fez: trabalhar para ficar no poder por meio de outro partido, não importa qual. Isso é fácil por sua natureza, digamos, macunaímica – trata-se de uma agremiação sem nenhum caráter ideológico.
Há duas opções para o partido: forjar uma aliança com o PT – de cujo governo o PMDB é base de apoio – ou embarcar na provável candidatura de José Serra, do PSDB. Geddel personifica essa bifurcação. Na Bahia, ajudou a eleger o governador Jaques Wagner, do PT, em 2006. Wagner será candidato à reeleição, mas Geddel, agora poderoso, também sonha com o cargo. É possível um cenário em que Geddel, ministro de Lula, se lance candidato contra o PT em seu estado e, para firmar posição, apóie o candidato tucano à Presidência. Essa divergência de interesses entre PT e PMDB tende a se repetir em outros estados.
Por enquanto, os peemedebistas ficarão como estão: incrustados no governo Lula, mas batalhando por seus próprios interesses. "Entendo que haja uma expectativa de setores do PT para que a gente se defina logo. Mas estamos a dois anos da eleição. Não é hora de decidir nada", diz Geddel. O ministro abre ainda mais seu sorriso para explicar que seu partido jamais deixará o governo por vontade própria, mesmo que decida confrontar o PT nas eleições. "Se na Bahia, por exemplo, o governo desejar romper com o PMDB, caberá a ele a decisão. A caneta está em suas mãos. É só usar o Diário Oficial. Nós não vamos sair." Esse é Geddel. Essa é a cara do PMDB.
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