Jornal Opção, de Goiânia
Se impor uma derrota a José Sarney, o presidente Lula estará humilhando o PMDB, possivelmente o principal parceiro de Dilma Rousseff. O tucanato, que compôs com o petista Tião Viana, poderá tirar proveito da queda do veterano senador.
O presidente Lula da Silva é a principal raposa da política brasileira porque parece ter aprendido o pulo extra do gato com o PMDB de José Sarney. O petista sabe que o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), está preparando uma grande “armadilha” política, e com muita antecipação.
Se impor uma derrota a José Sarney, o presidente Lula estará humilhando o PMDB, possivelmente o principal parceiro de Dilma Rousseff. O tucanato, que compôs com o petista Tião Viana, poderá tirar proveito da queda do veterano senador.
O presidente Lula da Silva é a principal raposa da política brasileira porque parece ter aprendido o pulo extra do gato com o PMDB de José Sarney. O petista sabe que o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), está preparando uma grande “armadilha” política, e com muita antecipação.
Em conversas com vários políticos, entre eles o presidente do PSDB nacional, Sérgio Guerra, Serra tem dito que a aliança PSDB-DEM-PPS é competitiva e pode eleger o presidente da República em 2010. Mas há um fator capaz de desequilibrar o jogo político, tanto pró-Serra quanto pró-Dilma Rousseff, o nome de Lula e quase do PT. Trata-se do apoio do PMDB. Matreiro e conhecedor da política brasileira, Serra percebeu que o apoio do PMDB, pelo menos em 2010, deverá ser fracionado. Parte do partido vai mesmo com a provável candidata do PT, Dilma Rousseff, por conta de interesses no governo federal ou questões locais (o PMDB goiano não apóia Serra de maneira alguma, por causa do senador Marconi Perillo, adversário figadal do prefeito Iris Rezende). Outra parte, significativa, ficará com Serra, também por interesses, como expectativa de poder e por não ter sido agraciada com quinhões satisfatórios no governo petista.
Em 2009 e início de 2010, Serra vai operar, com o apoio de aliados — DEM, PPS e PSDB —, a montagem de chapas únicas para os governos estaduais. A tese é que os três partidos lancem candidatos únicos nos Estados, com o objetivo de fortalecer o candidato a presidente.
Em alguns Estados, a aliança deve incluir possíveis candidatos do PMDB. O governador do Espírito Santo, o peemedebista Paulo Hartung, é tido como certo no esquema de apoio a Serra. Como é governador, e precisa do apoio do governo federal, Hartung pediu prazo — e com razão: o momento é mais de articulação, de mostrar as cartas de intenções, do que de estabelecer alianças definitivas. Em política, dizem os sábios do metier, só há uma coisa definitiva: “Não há nada definitivo”. No Paraná, o peemedebista Roberto Requião tem elogiado Serra e está próximo dos tucanos. Trata-se de um governador de temperamento difícil e instável, mas reeleito. No Rio Grande do Sul, por conta da rivalidade histórica com o PT, o PMDB de Germano Rigotto e do prefeito de Porto Alegre, José Fogaça, tende a compor com o tucano paulista. Em Brasília, o ex-governador Joaquim Roriz, cortejado pelo PT e pelo DEM, deve ficar com Serra. Em São Paulo, o peemedebista Orestes Quércia já fechou parceria com Serra e indicará um candidato a senador na chapa que terá um tucano como postulante ao governo. Se depender de Quércia, o vice de Serra será do PMDB. É o que Serra quer. Se não conseguir ter o vice, pelo menos ficará satisfeito em obter parte do apoio do partido. Fundamental, dizem os tucanos, é impedir uma possível aliança formal do PMDB com o PT. Lula trabalha para que o vice de Dilma seja peemedebista.
Se Serra continuar em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, consolidando-se, e sobretudo se Dilma Rousseff não obtiver números satisfatórios, a tendência é, pouco a pouco, o PMDB migrar para os braços tucanos. Mas não em 2009. Políticos sabem que governos só ficam fracos, quando ficam, no último ano de gestão. Portanto, peemedebistas podem até sinalizar para Serra este ano, mas só deixarão Lula, se deixarem, em 2010, e depois de março, com as necessárias desincompatibilizações.
Entretanto, se Serra faz o seu jogo, com acertos — a única grande pendência é a insatisfação de Aécio Neves, que, dizem, quer ser ministro de um possível governo tucano —, Lula não deixa de fazer o seu. Nenhum partido tem sido tão contemplado com cargos e benesses quanto o PMDB no governo Lula. O presidente precisa do apoio do partido na Câmara dos Deputados, no Senado e para a sucessão em 2010. O PMDB, com suas máquinas estaduais e sua experiência política, é mesmo o grande aliado para o próximo pleito. Tanto para o PT quanto para o PSDB. O partido criou uma nova especialização na política: o doutorado em alianças. Porque percebeu que ser o segundo às vezes é o mesmo que ser o primeiro. Não precisa ter o presidente da República. Mais importante é mandar, é entender as filigranas do poder e do micropoder. O partido descobriu isto desde o governo de José Sarney, quando mandava e desmandava. Embora Sarney fosse filiado ao partido, não era, a rigor, do partido — era um homem da ditadura infiltrado no ex-Manda Brasa. Hoje, Sarney e PMDB são a mesma coisa — ou seja, se “renangizaram”. O jogo brasiliense passa, de algum modo, por Renan Calheiros.
Então, quando Sarney se lança candidato a presidente do Senado, resta ao petista Lula tomar uma atitude, porque em política não se aceita que o presidente fique omisso. Se fica com o PT, Lula pode eleger Tião Viana presidente do Senado e, possivelmente, o custo do Senado será menor para o governo federal. Mas, se fizer isto, estará humilhando Sarney e, portanto, o PMDB. Qual seria o custo desta humilhação?
Se sair humilhado do processo, Sarney, um ex-presidente da República de quase 80 anos, e o PMDB certamente não romperão com o governo Lula este ano, por conta de seus vastos interesses políticos, administrativos (cargos) e financeiros. Não romperão abertamente, mas se poderá falar num rompimento “branco” e, quem sabe, numa aproximação com o “leal” José Serra (o PMDB de Quércia e o DEM de Gilberto Kassab “falam” maravilhas do governador paulista, que “cumpre tudo” que trata com aliados). Na quinta-feira, 29, o PSDB havia fechado com a candidatura de Tião Viana. O senador goiano Marconi Perillo era cotado para vice-presidente do Senado. Mas o jogo, que parecia fechado, ainda estava aberto. Políticos, como se sabe, só fecham os seus jogos em cima da hora. Pode parecer apenas oportunismo, mas isto faz parte, na verdade, das resoluções dos conflitos na sociedade aberta e democrática.
O DEM, que se diz um partido de orientação liberal, optou por apoiar Sarney. A explicação do líder do DEM, José Agripino Maia, do Rio Grande do Norte, é de um cinismo que espanta até políticos experimentados: “A opção do DEM é muito em cima da necessidade de o Congresso desempenhar o papel de equilíbrio e não alinhamento com o Palácio do Planalto. Os poderes Legislativo e Executivo, neste momento, não podem se concentrar num único partido político”. Quando inquirido se Sarney não era identificado com o presidente Lula, Agripino tergiversou pela segunda vez: “Não, não vejo. E nem ele se coloca como tal. Ele é candidato de partidos da oposição e da base do governo”.
A tese é fraca, de matiz oportunista: por mais que fale em liturgia do poder, Sarney não tornará o Senado um símbolo de independência. Pode até usar a máscara da independência, para não parecer subserviente, mas, se eleito, atenderá o presidente Lula em praticamente todas as suas “necessidades”. Sarney é um político de composição, do poder, não do conflito. Lula vai humilhar um político desta estirpe, sabendo que, possivelmente, terá peso nas decisões do partido em 2010? Como presidente do Senado, Sarney terá mais força para impor o apoio a Dilma. Fora da presidência, não terá energia para conter o apoio a Serra. E ninguém mais terá. Paradoxalmente, o PSDB talvez avalie que uma derrota (quase impossível) de Sarney pode aproximar, ainda mais, o PMDB dos tucanos.
Em 2009 e início de 2010, Serra vai operar, com o apoio de aliados — DEM, PPS e PSDB —, a montagem de chapas únicas para os governos estaduais. A tese é que os três partidos lancem candidatos únicos nos Estados, com o objetivo de fortalecer o candidato a presidente.
Em alguns Estados, a aliança deve incluir possíveis candidatos do PMDB. O governador do Espírito Santo, o peemedebista Paulo Hartung, é tido como certo no esquema de apoio a Serra. Como é governador, e precisa do apoio do governo federal, Hartung pediu prazo — e com razão: o momento é mais de articulação, de mostrar as cartas de intenções, do que de estabelecer alianças definitivas. Em política, dizem os sábios do metier, só há uma coisa definitiva: “Não há nada definitivo”. No Paraná, o peemedebista Roberto Requião tem elogiado Serra e está próximo dos tucanos. Trata-se de um governador de temperamento difícil e instável, mas reeleito. No Rio Grande do Sul, por conta da rivalidade histórica com o PT, o PMDB de Germano Rigotto e do prefeito de Porto Alegre, José Fogaça, tende a compor com o tucano paulista. Em Brasília, o ex-governador Joaquim Roriz, cortejado pelo PT e pelo DEM, deve ficar com Serra. Em São Paulo, o peemedebista Orestes Quércia já fechou parceria com Serra e indicará um candidato a senador na chapa que terá um tucano como postulante ao governo. Se depender de Quércia, o vice de Serra será do PMDB. É o que Serra quer. Se não conseguir ter o vice, pelo menos ficará satisfeito em obter parte do apoio do partido. Fundamental, dizem os tucanos, é impedir uma possível aliança formal do PMDB com o PT. Lula trabalha para que o vice de Dilma seja peemedebista.
Se Serra continuar em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, consolidando-se, e sobretudo se Dilma Rousseff não obtiver números satisfatórios, a tendência é, pouco a pouco, o PMDB migrar para os braços tucanos. Mas não em 2009. Políticos sabem que governos só ficam fracos, quando ficam, no último ano de gestão. Portanto, peemedebistas podem até sinalizar para Serra este ano, mas só deixarão Lula, se deixarem, em 2010, e depois de março, com as necessárias desincompatibilizações.
Entretanto, se Serra faz o seu jogo, com acertos — a única grande pendência é a insatisfação de Aécio Neves, que, dizem, quer ser ministro de um possível governo tucano —, Lula não deixa de fazer o seu. Nenhum partido tem sido tão contemplado com cargos e benesses quanto o PMDB no governo Lula. O presidente precisa do apoio do partido na Câmara dos Deputados, no Senado e para a sucessão em 2010. O PMDB, com suas máquinas estaduais e sua experiência política, é mesmo o grande aliado para o próximo pleito. Tanto para o PT quanto para o PSDB. O partido criou uma nova especialização na política: o doutorado em alianças. Porque percebeu que ser o segundo às vezes é o mesmo que ser o primeiro. Não precisa ter o presidente da República. Mais importante é mandar, é entender as filigranas do poder e do micropoder. O partido descobriu isto desde o governo de José Sarney, quando mandava e desmandava. Embora Sarney fosse filiado ao partido, não era, a rigor, do partido — era um homem da ditadura infiltrado no ex-Manda Brasa. Hoje, Sarney e PMDB são a mesma coisa — ou seja, se “renangizaram”. O jogo brasiliense passa, de algum modo, por Renan Calheiros.
Então, quando Sarney se lança candidato a presidente do Senado, resta ao petista Lula tomar uma atitude, porque em política não se aceita que o presidente fique omisso. Se fica com o PT, Lula pode eleger Tião Viana presidente do Senado e, possivelmente, o custo do Senado será menor para o governo federal. Mas, se fizer isto, estará humilhando Sarney e, portanto, o PMDB. Qual seria o custo desta humilhação?
Se sair humilhado do processo, Sarney, um ex-presidente da República de quase 80 anos, e o PMDB certamente não romperão com o governo Lula este ano, por conta de seus vastos interesses políticos, administrativos (cargos) e financeiros. Não romperão abertamente, mas se poderá falar num rompimento “branco” e, quem sabe, numa aproximação com o “leal” José Serra (o PMDB de Quércia e o DEM de Gilberto Kassab “falam” maravilhas do governador paulista, que “cumpre tudo” que trata com aliados). Na quinta-feira, 29, o PSDB havia fechado com a candidatura de Tião Viana. O senador goiano Marconi Perillo era cotado para vice-presidente do Senado. Mas o jogo, que parecia fechado, ainda estava aberto. Políticos, como se sabe, só fecham os seus jogos em cima da hora. Pode parecer apenas oportunismo, mas isto faz parte, na verdade, das resoluções dos conflitos na sociedade aberta e democrática.
O DEM, que se diz um partido de orientação liberal, optou por apoiar Sarney. A explicação do líder do DEM, José Agripino Maia, do Rio Grande do Norte, é de um cinismo que espanta até políticos experimentados: “A opção do DEM é muito em cima da necessidade de o Congresso desempenhar o papel de equilíbrio e não alinhamento com o Palácio do Planalto. Os poderes Legislativo e Executivo, neste momento, não podem se concentrar num único partido político”. Quando inquirido se Sarney não era identificado com o presidente Lula, Agripino tergiversou pela segunda vez: “Não, não vejo. E nem ele se coloca como tal. Ele é candidato de partidos da oposição e da base do governo”.
A tese é fraca, de matiz oportunista: por mais que fale em liturgia do poder, Sarney não tornará o Senado um símbolo de independência. Pode até usar a máscara da independência, para não parecer subserviente, mas, se eleito, atenderá o presidente Lula em praticamente todas as suas “necessidades”. Sarney é um político de composição, do poder, não do conflito. Lula vai humilhar um político desta estirpe, sabendo que, possivelmente, terá peso nas decisões do partido em 2010? Como presidente do Senado, Sarney terá mais força para impor o apoio a Dilma. Fora da presidência, não terá energia para conter o apoio a Serra. E ninguém mais terá. Paradoxalmente, o PSDB talvez avalie que uma derrota (quase impossível) de Sarney pode aproximar, ainda mais, o PMDB dos tucanos.
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