Josias de Souza
A disputa pela presidência do Senado, antes um jogo de xadrez, converteu-se numa espécie de vale-tudo, modalidade de luta livre marcada pelos golpes violentos.
Neste sábado (31), os dois candidatos acusavam-se mutuamente, nos subterrâneos, de recorrer a “pancadas” abaixo da linha da cintura.
O time de Tião Viana (PT-AC) farejou a entrada em cena de um personagem conhecido nos meios políticos, mas estranho aos quadros do Senado.
"O Kakay entrou na briga", disse Tião Viana a um de seus correligionários, logo cedo. Referia-se, pelo apelido, ao advogado Antônio Carlos de Almeida Castro.
Acionado por Sarney, Kakay comunicara-se, por telefone, com alguns dos “eleitores” do Senado. Entre eles o tucano Marconi Perillo (GO).
Conhecido pela habilidade com que livra de complicações os clientes encrencados com a lei, Kakay (foto ao lado) cultiva amizades pluripartidárias e pós-ideológicas.
Vão do petista José Dirceu a Sarney. Dos 81 senadores, 16 são clientes de Kakay. Uma “bancada” considerável. Maior do que a do DEM, com 14 integrantes.
Na casa de Sarney, disparavam-se olhares rútilos noutra direção. Os partidários do morubixaba do PMDB miravam, com desconfiança, o Planalto.
Verificou-se que ministros e auxiliares de Lula desceram ao ringue do Senado do lado do córner de Tião Viana.
“É traição”, vociferou Sarney ao ser informado de que o petista Gilberto Carvalho, secretário particular de Lula, arregaçara as mangas pelo rival petista.
Em timbre ameaçador, Sarney disse que conviria a Lula manter os seus soldados “no quartel”. Num gesto incondizente com a condição de favorito que se autoatribui, Sarney tocou o telefone para a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil).
Queixou-se da movimentação de Carvalho. Pediu providências. Dilma limitou-se a repassar os queixumes ao auxiliar de Lula.
Um lugar-tenente de Sarney disse ao blog que Gilberto Carvalho não está só. Também o ministro Geddel Vieira Lima (Integração Nacional) estaria suando a camisa por Tião.
Geddel foi à Esplanada na cota do PMDB. Joga no time de Michel Temer (SP), que, na briga pela presidência da Câmara, torce o nariz para a candidatura de Sarney.
Uma candidatura engendrada por Renan Calheiros (PMDB-AL) e que pode render a Temer, no lufa-lufa da Câmara, traições do petismo.
A exemplo do que fizera Sarney no telefonema a Dilma, também o grupo de Tião recorreu ao telefone para medir os passos do advogado Kakay.
Tião acionou o irmão Jorge Viana (PT), ex-governador do Acre e atual presidente da Helibrás. Jorge é, também ele, amigo de Kakay.
Travaram um diálogo ameno. A certa altura, o irmão de Tião perguntou a Kakay até que ponto estava ajudando Sarney.
E o advogado: “Se eu estivesse ajudando, não teria chegado ontem [sexta] à noite a Brasília. Estava em férias, no Rio”.
O repórter também discou para Kakay. Ele confirmou que conversara com o tucano Marconi Perillo, cujo partido, depois de quase fechar com Sarney, aderiu a Tião.
“Marconi é meu amigo de 20 anos”, disse Kakay. “Falamos com freqüência”. O interlocutor assíduo do advogado é pretende à vaga de vice-presidente do Senado.
Uma ambição que leva a tropa do PMDB a incluir Marconi no rol de tucanos que, a despeito da adesão do PSDB a Tião, votaria secretamente em Sarney.
Rematada tolice, reage Arthur Virgílio. O líder tucano apressa-se em esclarecer que, pelo critério da proporcionalidade das bancadas, Perillo será vice em qualquer circunstância, sob Sarney ou sob Tião.
Um cacique do DEM procurou Sarney para aconselhá-lo a dispensar a “ajuda” de Kakay. Argumentou que o resultado, por incerto, não compensaria a repercussão negativa.
“O presidente Sarney não me disse nada a esse respeito”, desdenhou Kakay. “Fui advogado da Roseana [Sarney]. Resolvi o processo. O Sarney me trata como um filho”.
O processo a que se refere Kakay é o “Caso Lunus”. Nasceu de uma batida da PF, em 2002, numa empresa que tinha como sócio Jorge Murad, ex-marido de Roseana.
A incursão da PF resultou na apreensão de R$ 1,3 milhão. Dinheiro que, segundo a polícia, forniria o caixa dois de uma frustrada campanha presidencial da filha de Sarney.
Uma acusação que Kakay desmontou na Justiça, reavendo o dinheiro. Daí a gratidão paternal de Sarney, que até hoje enxerga as digitais do tucano José Serra na ação da PF.
Entre risos, Kakay diz: “Não tenho nenhuma importância na eleição do Senado. Não me atribuo tamanha importância. Há senadores que são meus clientes e amigos...”
“...Falei com dois ou três. São pessoas que me ligam pra trocar impressões. Nada além disso”.
A algaravia que ressoa dos arredores de Sarney e de Tião prenuncia uma eleição de placar apertado no Senado. Algo que anima os adversários de Temer na Câmara.
“Todo mundo vai ficar boquiaberto quando o placar eletrônico for aberto”, diz Ciro Nogueira (PP-PI), um dos adversários de Temer.
Ciro acha que a arenga do Senado vai ecoar na Câmara. Aposta num segundo turno entre ele e Temer. Crê que vai prevalecer sobre o favorito.
Os partidários de Temer dão de ombros. Munidos de uma contabilidade que indica superioriade de 83 votos, acham que o painel não lhes reserva nenhuma surpresa. A ver.
A disputa pela presidência do Senado, antes um jogo de xadrez, converteu-se numa espécie de vale-tudo, modalidade de luta livre marcada pelos golpes violentos.
Neste sábado (31), os dois candidatos acusavam-se mutuamente, nos subterrâneos, de recorrer a “pancadas” abaixo da linha da cintura.
O time de Tião Viana (PT-AC) farejou a entrada em cena de um personagem conhecido nos meios políticos, mas estranho aos quadros do Senado.
"O Kakay entrou na briga", disse Tião Viana a um de seus correligionários, logo cedo. Referia-se, pelo apelido, ao advogado Antônio Carlos de Almeida Castro.
Acionado por Sarney, Kakay comunicara-se, por telefone, com alguns dos “eleitores” do Senado. Entre eles o tucano Marconi Perillo (GO).
Conhecido pela habilidade com que livra de complicações os clientes encrencados com a lei, Kakay (foto ao lado) cultiva amizades pluripartidárias e pós-ideológicas.
Vão do petista José Dirceu a Sarney. Dos 81 senadores, 16 são clientes de Kakay. Uma “bancada” considerável. Maior do que a do DEM, com 14 integrantes.
Na casa de Sarney, disparavam-se olhares rútilos noutra direção. Os partidários do morubixaba do PMDB miravam, com desconfiança, o Planalto.
Verificou-se que ministros e auxiliares de Lula desceram ao ringue do Senado do lado do córner de Tião Viana.
“É traição”, vociferou Sarney ao ser informado de que o petista Gilberto Carvalho, secretário particular de Lula, arregaçara as mangas pelo rival petista.
Em timbre ameaçador, Sarney disse que conviria a Lula manter os seus soldados “no quartel”. Num gesto incondizente com a condição de favorito que se autoatribui, Sarney tocou o telefone para a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil).
Queixou-se da movimentação de Carvalho. Pediu providências. Dilma limitou-se a repassar os queixumes ao auxiliar de Lula.
Um lugar-tenente de Sarney disse ao blog que Gilberto Carvalho não está só. Também o ministro Geddel Vieira Lima (Integração Nacional) estaria suando a camisa por Tião.
Geddel foi à Esplanada na cota do PMDB. Joga no time de Michel Temer (SP), que, na briga pela presidência da Câmara, torce o nariz para a candidatura de Sarney.
Uma candidatura engendrada por Renan Calheiros (PMDB-AL) e que pode render a Temer, no lufa-lufa da Câmara, traições do petismo.
A exemplo do que fizera Sarney no telefonema a Dilma, também o grupo de Tião recorreu ao telefone para medir os passos do advogado Kakay.
Tião acionou o irmão Jorge Viana (PT), ex-governador do Acre e atual presidente da Helibrás. Jorge é, também ele, amigo de Kakay.
Travaram um diálogo ameno. A certa altura, o irmão de Tião perguntou a Kakay até que ponto estava ajudando Sarney.
E o advogado: “Se eu estivesse ajudando, não teria chegado ontem [sexta] à noite a Brasília. Estava em férias, no Rio”.
O repórter também discou para Kakay. Ele confirmou que conversara com o tucano Marconi Perillo, cujo partido, depois de quase fechar com Sarney, aderiu a Tião.
“Marconi é meu amigo de 20 anos”, disse Kakay. “Falamos com freqüência”. O interlocutor assíduo do advogado é pretende à vaga de vice-presidente do Senado.
Uma ambição que leva a tropa do PMDB a incluir Marconi no rol de tucanos que, a despeito da adesão do PSDB a Tião, votaria secretamente em Sarney.
Rematada tolice, reage Arthur Virgílio. O líder tucano apressa-se em esclarecer que, pelo critério da proporcionalidade das bancadas, Perillo será vice em qualquer circunstância, sob Sarney ou sob Tião.
Um cacique do DEM procurou Sarney para aconselhá-lo a dispensar a “ajuda” de Kakay. Argumentou que o resultado, por incerto, não compensaria a repercussão negativa.
“O presidente Sarney não me disse nada a esse respeito”, desdenhou Kakay. “Fui advogado da Roseana [Sarney]. Resolvi o processo. O Sarney me trata como um filho”.
O processo a que se refere Kakay é o “Caso Lunus”. Nasceu de uma batida da PF, em 2002, numa empresa que tinha como sócio Jorge Murad, ex-marido de Roseana.
A incursão da PF resultou na apreensão de R$ 1,3 milhão. Dinheiro que, segundo a polícia, forniria o caixa dois de uma frustrada campanha presidencial da filha de Sarney.
Uma acusação que Kakay desmontou na Justiça, reavendo o dinheiro. Daí a gratidão paternal de Sarney, que até hoje enxerga as digitais do tucano José Serra na ação da PF.
Entre risos, Kakay diz: “Não tenho nenhuma importância na eleição do Senado. Não me atribuo tamanha importância. Há senadores que são meus clientes e amigos...”
“...Falei com dois ou três. São pessoas que me ligam pra trocar impressões. Nada além disso”.
A algaravia que ressoa dos arredores de Sarney e de Tião prenuncia uma eleição de placar apertado no Senado. Algo que anima os adversários de Temer na Câmara.
“Todo mundo vai ficar boquiaberto quando o placar eletrônico for aberto”, diz Ciro Nogueira (PP-PI), um dos adversários de Temer.
Ciro acha que a arenga do Senado vai ecoar na Câmara. Aposta num segundo turno entre ele e Temer. Crê que vai prevalecer sobre o favorito.
Os partidários de Temer dão de ombros. Munidos de uma contabilidade que indica superioriade de 83 votos, acham que o painel não lhes reserva nenhuma surpresa. A ver.
Comentários