Josias de Souza
Os repórteres estranharam. Sabiam que algo de muito estranho ocorrera com o PSDB. Mas não conseguiram escarafunchar o mistério. E nada saiu nos jornais.
O tucanato cruzou a semana exibindo um comportamento esquisito. Antes, era capaz de tudo, menos de fazer oposição. Súbito, foi à jugular de Lula.
Deve-se o abandono do oposicionismo de punhos de renda a um episódio ocorrido no início da semana. Deu-se o seguinte.
Numa dessas manhãs secas de Brasília, o PSDB acordou mudado. Espreguiçou. Esticou as pernas para fora do colchão. Procurou os chinelos sob a cama. Foi ao banheiro.
Abriu a torneira. Mãos dispostas em concha, recolheu a água. Lavou o rosto, erguendo-o em direção ao espelho. Espantado, deu um pulo pra atrás.
Sua imagem refletida não era a mesma. Ele, rosto escanhoado. Ela, barba desgrenhada. Ele, face limpinha. Ela, cara suarenta.
- Quem é você?
- Eu sou você ontem.
Lero vai, lero vem o PSDB se deu conta de que acabara de sofrer uma metamorfose. Sua imagem refletida no espelho era a do ex-PT.
Aturdido, saiu correndo do banheiro. Estava apertando o nó da gravata, no closet, quando percebeu que sua imagem o havia seguido. O ex-PT saltara do espelho.
- O que você está fazendo aqui?
- Serei a sua sombra. Vou com você ao Congresso.
O PSDB resistiu. O que diria aos que perguntassem quem era aquele barbudo ao seu lado?
- Diga que sou seu irmão.
- Mas eu não tenho irmão.
- Diga que sou um irmão que você não conhecia.
- Sei não... Você não se parece comigo. Tem língua presa, é feio, veste-se mal.
- Somos mais parecidos do que você imagina. Vai por mim.
Embora contrafeito, o PSDB assentiu. Levou o ex-PT para almoçar no Senado. Sim, era hora do almoço. O PSDB, você sabe, não acorda antes do meio-dia.
Na mesa do restaurante, o PSDB pediu água mineral. “Com gás ou sem gás?” A pergunta do garçom embatucou-o. O PSDB não é afeito a decisões rápidas.
O ex-PT interveio: “Com gás. E, pra mim, uma cachaça e uma cervejinha”. Completou o pedido: “Filé ao Chateaubriand pra ele. Buchada de bode pra mim”.
O PSDB passou o almoço escondendo o rosto. Receava que o DEM o visse com a sua imagem. O ex-PT falava de boca cheia. Manejava mal os talheres.
De sobremesa, o PSDB comeu “petit gâteau”. O ex-PT, outra dose de cachaça. “A saideira”. Na hora do cafezinho: “Com açúcar ou adoçante?”
O PSDB olhou para sua imagem. E o ex-PT: “Adoçante, ele precisa emagrecer. Neoliberalismo engorda. Pra mim, outra cachacinha. A penúltima!”
A rotina se repetiu ao longo de toda a semana. Sem perceber, o PSDB foi incorporando os hábitos do ex-PT. Quando caiu em si, trocara a água mineral pela cachaça.
Passou a exibir o comportamento estranho que chamou a atenção dos repórteres. Sem titubeios, pôs-se a atacar com virulência a mexida na caderneta de poupança.
Tergiversou no início: “Será? A medida é necessária. Sem ela o BC não pode baixar os juros”. O ex-PT radicalizou:
- Tolice. Lembra do Plano Real? Era bom. Mas nós fomos contra.
- Sim, mas o tempo provou que vocês estavam errados.
- Detalhe, detalhe... Você é um oposicionista ou um saco de batatas?
Meio tonto (efeito da cachaça?), o PSDB seguiu em frente. Rendeu-se integralmente à sua imagem que saltara do espelho.
Pôs-se a coletar assinaturas para uma CPI. Tomado de coragem inaudita, decidiu virar do avesso a Petrobras. O ex-PT exultou: “Agora estamos falando a mesma língua!”
Na sexta-feira, o que parecia improvável tornou-se real. PSDB e ex-PT tornaram-se irmãos de fato. “Vocês são gêmeos?”, indagou um atônito Aloizio Mercadante.
Nem o DEM conseguia distinguir o velho parceiro de oposição do outro. Lula espantou-se. Viu o que ninguém conseguiu enxergar.
No jogo de espelhos em que se transformara Brasília, o presidente avistou no neo-PSDB a imagem do Lula do passado. Não gostou.
"Acho estranho que partidos que governaram o país por oito anos tomem uma decisão irresponsável como essa. Parece briga de adolescente...”
"...Com nervosismo ninguém ganha eleição. Perdi três eleições nervoso. Quando fiquei calmo, ganhei".
O PSDB deu de ombros. Está deixando a barba crescer. Passou a comer frango com a mão. Foi visto num brechó de Brasília comprando roupa de bicho grilo.
Deve-se o abandono do oposicionismo de punhos de renda a um episódio ocorrido no início da semana. Deu-se o seguinte.
Numa dessas manhãs secas de Brasília, o PSDB acordou mudado. Espreguiçou. Esticou as pernas para fora do colchão. Procurou os chinelos sob a cama. Foi ao banheiro.
Abriu a torneira. Mãos dispostas em concha, recolheu a água. Lavou o rosto, erguendo-o em direção ao espelho. Espantado, deu um pulo pra atrás.
Sua imagem refletida não era a mesma. Ele, rosto escanhoado. Ela, barba desgrenhada. Ele, face limpinha. Ela, cara suarenta.
- Quem é você?
- Eu sou você ontem.
Lero vai, lero vem o PSDB se deu conta de que acabara de sofrer uma metamorfose. Sua imagem refletida no espelho era a do ex-PT.
Aturdido, saiu correndo do banheiro. Estava apertando o nó da gravata, no closet, quando percebeu que sua imagem o havia seguido. O ex-PT saltara do espelho.
- O que você está fazendo aqui?
- Serei a sua sombra. Vou com você ao Congresso.
O PSDB resistiu. O que diria aos que perguntassem quem era aquele barbudo ao seu lado?
- Diga que sou seu irmão.
- Mas eu não tenho irmão.
- Diga que sou um irmão que você não conhecia.
- Sei não... Você não se parece comigo. Tem língua presa, é feio, veste-se mal.
- Somos mais parecidos do que você imagina. Vai por mim.
Embora contrafeito, o PSDB assentiu. Levou o ex-PT para almoçar no Senado. Sim, era hora do almoço. O PSDB, você sabe, não acorda antes do meio-dia.
Na mesa do restaurante, o PSDB pediu água mineral. “Com gás ou sem gás?” A pergunta do garçom embatucou-o. O PSDB não é afeito a decisões rápidas.
O ex-PT interveio: “Com gás. E, pra mim, uma cachaça e uma cervejinha”. Completou o pedido: “Filé ao Chateaubriand pra ele. Buchada de bode pra mim”.
O PSDB passou o almoço escondendo o rosto. Receava que o DEM o visse com a sua imagem. O ex-PT falava de boca cheia. Manejava mal os talheres.
De sobremesa, o PSDB comeu “petit gâteau”. O ex-PT, outra dose de cachaça. “A saideira”. Na hora do cafezinho: “Com açúcar ou adoçante?”
O PSDB olhou para sua imagem. E o ex-PT: “Adoçante, ele precisa emagrecer. Neoliberalismo engorda. Pra mim, outra cachacinha. A penúltima!”
A rotina se repetiu ao longo de toda a semana. Sem perceber, o PSDB foi incorporando os hábitos do ex-PT. Quando caiu em si, trocara a água mineral pela cachaça.
Passou a exibir o comportamento estranho que chamou a atenção dos repórteres. Sem titubeios, pôs-se a atacar com virulência a mexida na caderneta de poupança.
Tergiversou no início: “Será? A medida é necessária. Sem ela o BC não pode baixar os juros”. O ex-PT radicalizou:
- Tolice. Lembra do Plano Real? Era bom. Mas nós fomos contra.
- Sim, mas o tempo provou que vocês estavam errados.
- Detalhe, detalhe... Você é um oposicionista ou um saco de batatas?
Meio tonto (efeito da cachaça?), o PSDB seguiu em frente. Rendeu-se integralmente à sua imagem que saltara do espelho.
Pôs-se a coletar assinaturas para uma CPI. Tomado de coragem inaudita, decidiu virar do avesso a Petrobras. O ex-PT exultou: “Agora estamos falando a mesma língua!”
Na sexta-feira, o que parecia improvável tornou-se real. PSDB e ex-PT tornaram-se irmãos de fato. “Vocês são gêmeos?”, indagou um atônito Aloizio Mercadante.
Nem o DEM conseguia distinguir o velho parceiro de oposição do outro. Lula espantou-se. Viu o que ninguém conseguiu enxergar.
No jogo de espelhos em que se transformara Brasília, o presidente avistou no neo-PSDB a imagem do Lula do passado. Não gostou.
"Acho estranho que partidos que governaram o país por oito anos tomem uma decisão irresponsável como essa. Parece briga de adolescente...”
"...Com nervosismo ninguém ganha eleição. Perdi três eleições nervoso. Quando fiquei calmo, ganhei".
O PSDB deu de ombros. Está deixando a barba crescer. Passou a comer frango com a mão. Foi visto num brechó de Brasília comprando roupa de bicho grilo.
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