Reinaldo Azevedo
Lamentável, deplorável, detestável — escolham aí os adjetivos desse paradigma — o carnaval promovido pelo ramo brasileiro da família do garoto Sean Goldman. Lamento: não há amor que justifique isso. ATÉ PORQUE O AMOR NÃO ESTÁ ACIMA DA LEI; O AMOR ESTÁ É EM OUTRO LUGAR. E, havendo amor, então é preciso que haja também bom senso. Estamos assistindo, com ampla cobertura de uma imprensa que, na média, também perdeu a medida, a uma espécie de concupiscência do sofrimento — um sentimento um tanto perigoso —, a que se somaram rasgos, calculem, de nacionalismo e até de teorias conspiratórias.
A presença desse menino do Brasil, contra a vontade de seu pai, de quem ele foi tirado, era SIMPLEMENTE ILEGAL. O Brasil já se viu na posição contrária e atuou para trazer de volta as suas crianças, e é o certo. É vexaminoso, se querem saber, que esse caso tenha chegado ao Supremo, o que pode ser atestado por qualquer pessoa com um conhecimento mínimo de direito. Lamento dizer que tenho minhas dúvidas se essa história teria chegado tão longe não fosse a fidalguia de uma das famílias envolvidas — Lins e Silva, do padrasto do menino. Um padrasto, à altura em que estavam as coisas, em situação muito especial.
Vestir no garoto a camisa do Brasil, mimetizando um confronto entre países, é não só ridículo; é perverso também. Os parentes do menino que assim procederam imputaram-lhe perdas adicionais, não fosse a tristeza, natural, de se afastar das pessoas com as quais conviveu nos últimos cinco anos. O que pretendem? Que se sinta para sempre estrangeiro em seu próprio país? Que resista a uma identidade a que tem direito? O apelo ao presidente Lula — e é chocante que alguns príncipes do direito tenham permitido tal investida — parece entender que o Brasil é um país sem leis, onde vigora a vontade do soberano; a verdadeira campanha que se desencadeou contra o ministro Gilmar Mendes — que decidiu segundo a lei — pretende pôr uma sombra de irracionalidade e emocionalismo numa decisão impecável. O que queriam as famílias Bianchi e Lins e Silva? Que as leis valessem para todos, menos para os fidalgos amorosos?
Vi a avó materna do garoto ontem na TV. Com a devida vênia, esta senhora está fazendo dumping de sofrimento. Mais do que ela, certamente sofre o menino Sean, submetido a um bombardeio emocional inacreditável, que só falta convocar a honra da pátria e acusar, sei lá, o imperialismo americano… Na TV, ela não teve dúvida: atacou Gilmar Mendes, COM TODA AQUELA AUTORIDADE E LICENÇA QUE AS PESSOAS QUE SOFREM TÊM PARA DIZER BOBAGENS E PARA SER INJUSTAS. E a televisão levou ao ar. E levará outras vezes. Porque isso é o filé das emoções baratas. Nem vou indagar se, fosse numa situação inversa, não estaria a pátria sendo igualmente mobilizada para trazer de volta um “brasileirinho”. Ela deitou falação. E fomos informados que o ministro preferiu não comentar. COMENTAR O QUÊ?
Há um processo de criminalização no país de quem segue as leis. Os “sofredores” podem ir para a televisão, como verdadeiros aiatolás, e declarar uma fatwa contra a reputação de A ou de B; afinal, se eles sofrem, então estão necessariamente certos. E que se danem as leis, a Constituição, os tratados internacionais. Depois do “Direito Achado na Rua”, chegou a hora do “Direito Achado nas Lágrimas”. E ele dá, então, licença até mesmo para seqüestros amorosos.
Chamem Salomão! Tenho dúvidas sobre o que fariam alguns desses sofredores se o Rei mandasse cortar a criança ao meio… Se as leis não bastam aos inconformados, eu lhes recomendo o “Amor”, aquele da Primeira Epístola de São Paulo aos Coríntios:
“O amor é paciente, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não se vangloria, não se ensoberbece, não se porta inconvenientemente, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal; não se regozija com a injustiça, mas se regozija com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.”
É isto: O AMOR NÃO SE REGOZIJA COM A INJUSTIÇA, MAS COM A VERDADE!
Parem de expor essa criança em praça pública. Sejam mais comedidos. Sejam mais amorosos. Sejam menos soberbos e concupiscentes em seu sofrimento. E não peçam que o país revogue as leis e os tratados internacionais porque, afinal, vocês estão tristes. Não permitam que tanto afeto ajude a tornar muitos brasilerios ainda mais estúpidos. Deixem os holofotes de lado e se apeguem a São Paulo!
Lamentável, deplorável, detestável — escolham aí os adjetivos desse paradigma — o carnaval promovido pelo ramo brasileiro da família do garoto Sean Goldman. Lamento: não há amor que justifique isso. ATÉ PORQUE O AMOR NÃO ESTÁ ACIMA DA LEI; O AMOR ESTÁ É EM OUTRO LUGAR. E, havendo amor, então é preciso que haja também bom senso. Estamos assistindo, com ampla cobertura de uma imprensa que, na média, também perdeu a medida, a uma espécie de concupiscência do sofrimento — um sentimento um tanto perigoso —, a que se somaram rasgos, calculem, de nacionalismo e até de teorias conspiratórias.
A presença desse menino do Brasil, contra a vontade de seu pai, de quem ele foi tirado, era SIMPLEMENTE ILEGAL. O Brasil já se viu na posição contrária e atuou para trazer de volta as suas crianças, e é o certo. É vexaminoso, se querem saber, que esse caso tenha chegado ao Supremo, o que pode ser atestado por qualquer pessoa com um conhecimento mínimo de direito. Lamento dizer que tenho minhas dúvidas se essa história teria chegado tão longe não fosse a fidalguia de uma das famílias envolvidas — Lins e Silva, do padrasto do menino. Um padrasto, à altura em que estavam as coisas, em situação muito especial.
Vestir no garoto a camisa do Brasil, mimetizando um confronto entre países, é não só ridículo; é perverso também. Os parentes do menino que assim procederam imputaram-lhe perdas adicionais, não fosse a tristeza, natural, de se afastar das pessoas com as quais conviveu nos últimos cinco anos. O que pretendem? Que se sinta para sempre estrangeiro em seu próprio país? Que resista a uma identidade a que tem direito? O apelo ao presidente Lula — e é chocante que alguns príncipes do direito tenham permitido tal investida — parece entender que o Brasil é um país sem leis, onde vigora a vontade do soberano; a verdadeira campanha que se desencadeou contra o ministro Gilmar Mendes — que decidiu segundo a lei — pretende pôr uma sombra de irracionalidade e emocionalismo numa decisão impecável. O que queriam as famílias Bianchi e Lins e Silva? Que as leis valessem para todos, menos para os fidalgos amorosos?
Vi a avó materna do garoto ontem na TV. Com a devida vênia, esta senhora está fazendo dumping de sofrimento. Mais do que ela, certamente sofre o menino Sean, submetido a um bombardeio emocional inacreditável, que só falta convocar a honra da pátria e acusar, sei lá, o imperialismo americano… Na TV, ela não teve dúvida: atacou Gilmar Mendes, COM TODA AQUELA AUTORIDADE E LICENÇA QUE AS PESSOAS QUE SOFREM TÊM PARA DIZER BOBAGENS E PARA SER INJUSTAS. E a televisão levou ao ar. E levará outras vezes. Porque isso é o filé das emoções baratas. Nem vou indagar se, fosse numa situação inversa, não estaria a pátria sendo igualmente mobilizada para trazer de volta um “brasileirinho”. Ela deitou falação. E fomos informados que o ministro preferiu não comentar. COMENTAR O QUÊ?
Há um processo de criminalização no país de quem segue as leis. Os “sofredores” podem ir para a televisão, como verdadeiros aiatolás, e declarar uma fatwa contra a reputação de A ou de B; afinal, se eles sofrem, então estão necessariamente certos. E que se danem as leis, a Constituição, os tratados internacionais. Depois do “Direito Achado na Rua”, chegou a hora do “Direito Achado nas Lágrimas”. E ele dá, então, licença até mesmo para seqüestros amorosos.
Chamem Salomão! Tenho dúvidas sobre o que fariam alguns desses sofredores se o Rei mandasse cortar a criança ao meio… Se as leis não bastam aos inconformados, eu lhes recomendo o “Amor”, aquele da Primeira Epístola de São Paulo aos Coríntios:
“O amor é paciente, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não se vangloria, não se ensoberbece, não se porta inconvenientemente, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal; não se regozija com a injustiça, mas se regozija com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.”
É isto: O AMOR NÃO SE REGOZIJA COM A INJUSTIÇA, MAS COM A VERDADE!
Parem de expor essa criança em praça pública. Sejam mais comedidos. Sejam mais amorosos. Sejam menos soberbos e concupiscentes em seu sofrimento. E não peçam que o país revogue as leis e os tratados internacionais porque, afinal, vocês estão tristes. Não permitam que tanto afeto ajude a tornar muitos brasilerios ainda mais estúpidos. Deixem os holofotes de lado e se apeguem a São Paulo!
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