Vitor Hugo Soares
A mais recente pesquisa do Instituto Datafolha mostra com clareza: é periclitante a situação de José Serra, candidato do PSDB à presidência da República que, na verdade, nunca andou bem das pernas nesta campanha. Ele e os claudicantes aliados que ainda o acompanham pelo país - cada semana em menor número e a cada dia com menos firmeza no discurso – à medida que se aproxima 03 de outubro.
“De pior a pior” segue o ex-governador de São Paulo na disputa à sucessão Lula. Parecido com o xaxado nordestino “A cantiga da perua”, dos saudosos Jackson do Pandeiro e Almira Castilho, sucesso nacional dos anos 50, que fez dançar milhões de brasileiros nos forrós juninos.
Regravada mais recentemente pela também paraibana Elba Ramalho, a música pontifica entre as gozações atuais dos petistas do Nordeste aos tucano, e define com perfeição o dilema de um candidato sem rumo, que roda dentro de um círculo que se reduz, sem conseguir sair do lugar.
A diferença a favor da candidata do PT já bate na casa dos 20 pontos percentuais, segundo a última Datafolha. Não falta quem antecipe diferenças ainda maiores em próximos levantamentos de outros institutos. Pode ser puro blefe de apostador, ou pura pirraça mesmo. Mas ainda assim é melhor ficar atento.
“Eleição sem pirraça não tem a menor graça no sertão”, já dizia o falecido deputado pessedista Raimundo Reis. Ele sabia das coisas universais e nordestinas e, nos dois casos, as contava com muita graça e inteligência. Além de político, Raimundo foi também um dos maiores cronistas do cotidiano da Bahia em qualquer época, um conhecedor de almas, de costumes políticos, da transitoriedade e pequenez do poder. O autor de “Enquanto é Tempo” e “Geografia do Amor” faz muita falta em épocas eleitorais casmurras que até censura ao humorismo, como esta que está chegando próximo da sua encruzilhada.
Tudo é possível em eleição, dizem os mineiros. Bob Fernandes, que anda pela Bahia, me liga e percebo que ele também tem lá ainda suas dúvidas, apesar dos números, como é próprio dos bons repórteres. De minha parte confesso: não consigo enxergar sinais visíveis e objetivos (nem mesmo subjetivos) de alguma reação digna do nome no desempenho futuro de Serra: nas pesquisas, na qualidade dos programas no horário eleitoral de propaganda no rádio e na televisão, nos comícios, até mesmo nos rostos cada vez mais contrafeitos e agressivos de tucanos e democratas. Sem falar nas minguadas arrecadações para o caixa de campanha do ex-governador de São Paulo, na medida que o candidato desce a ladeira. Este, sem dúvida, um sinal vermelho em campanha nacional no país com as dimensões do Brasil.
Vejam, por exemplo, o caso baiano. O governador petista Jaques Wagner anunciou, com quase uma semana de antecedência, que o presidente Lula lhe havia garantido presença em Salvador ao lado da candidata “in pectore” à sua sucessão, Dilma Rousseff, no comício que varou a madrugada de ontem na Praça Castro Alves.
Foi o suficiente para a capital baiana praticamente virar um deserto de tucanos e democratas. Não havia buracos suficientes na cidade administrada pelo prefeito João Henrique Carneiro (PMDB), onde tanta gente em fuga pudesse se esconder de uma hora para outra, da mão pesada e dos olhos penetrantes na passagem do “rei” e sua “soberana” pela província.
Mesmo no PMDB do ex-ministro Geddel Vieira Lima, aliado nacional da candidata petista à presidência e ácido adversário de Jaques Wagner no estado, muita gente preferiu “tomar o caminho da roça” para se esconder. Ou fazer campanha no interior, a começar pelo candidato peemedebista a governador.
Ficou João, o prefeito, porque teria sido vergonhoso demais ele sumir de repente quando também o ministro das Cidades visitava Salvador para entregar “as chaves” e prometer mais recursos para o interminável metrô baiano, cuja primeira e única linha está em construção há 11 anos. Além disso, até os mais ingênuos dirigentes de PMDB estão convencidos de que João já caiu nos braços de Wagner há um bom tempo.
No comício de ontem, na Praça Castro Alves, uma cena das mais emblemáticas destes dias e desta campanha. Ao discursar, Lula faz suas escolhas eletivas no estado, com cortes de cirurgião consagrado. Ao governador petista a seu lado, atacado por Geddel na campanha, recomenda: “Não perca a calma, Wagner, quando os adversários estiverem babando de ódio”.
Depois o presidente pediu votos para eleger toda chapa majoritária de Wagner – os candidatos ao senado Lídice da Mata (PSB) e Walter Pinheiro (PT). No palanque Lula vê Otto Alencar (PP), fina flor do antigo carlismo baiano. Agora candidato a vice-governador na chapa petista, Otto veste uma camisa amarela da campanha petista com o “Wagner 13” escrito nas costas. Lula não perde a embalagem: “Companheiro Otto, não sabia que tu ias vestir essa camisa com tanta rapidez”, dispara o presidente. E a platéia ri do constrangido ex-seguidor de ACM.
Enquanto isso, na campanha e nos palanques de Serra, parece prevalecer a lei daquele motorista de caminhão do filme “Macunaima , o herói sem caráter”. Depois de despejar a leva de retirantes sem emprego e sem rumo na periferia da grande cidade o motorista avisa :”Agora é cada um por si e Deus contra”.
“É de pior a pior”, como no xaxado de Jackson do Pandeiro.
Vitor Hugo Soares é jornalista – E-mail: Vitor_soares1@terra.com.br
A mais recente pesquisa do Instituto Datafolha mostra com clareza: é periclitante a situação de José Serra, candidato do PSDB à presidência da República que, na verdade, nunca andou bem das pernas nesta campanha. Ele e os claudicantes aliados que ainda o acompanham pelo país - cada semana em menor número e a cada dia com menos firmeza no discurso – à medida que se aproxima 03 de outubro.
“De pior a pior” segue o ex-governador de São Paulo na disputa à sucessão Lula. Parecido com o xaxado nordestino “A cantiga da perua”, dos saudosos Jackson do Pandeiro e Almira Castilho, sucesso nacional dos anos 50, que fez dançar milhões de brasileiros nos forrós juninos.
Regravada mais recentemente pela também paraibana Elba Ramalho, a música pontifica entre as gozações atuais dos petistas do Nordeste aos tucano, e define com perfeição o dilema de um candidato sem rumo, que roda dentro de um círculo que se reduz, sem conseguir sair do lugar.
A diferença a favor da candidata do PT já bate na casa dos 20 pontos percentuais, segundo a última Datafolha. Não falta quem antecipe diferenças ainda maiores em próximos levantamentos de outros institutos. Pode ser puro blefe de apostador, ou pura pirraça mesmo. Mas ainda assim é melhor ficar atento.
“Eleição sem pirraça não tem a menor graça no sertão”, já dizia o falecido deputado pessedista Raimundo Reis. Ele sabia das coisas universais e nordestinas e, nos dois casos, as contava com muita graça e inteligência. Além de político, Raimundo foi também um dos maiores cronistas do cotidiano da Bahia em qualquer época, um conhecedor de almas, de costumes políticos, da transitoriedade e pequenez do poder. O autor de “Enquanto é Tempo” e “Geografia do Amor” faz muita falta em épocas eleitorais casmurras que até censura ao humorismo, como esta que está chegando próximo da sua encruzilhada.
Tudo é possível em eleição, dizem os mineiros. Bob Fernandes, que anda pela Bahia, me liga e percebo que ele também tem lá ainda suas dúvidas, apesar dos números, como é próprio dos bons repórteres. De minha parte confesso: não consigo enxergar sinais visíveis e objetivos (nem mesmo subjetivos) de alguma reação digna do nome no desempenho futuro de Serra: nas pesquisas, na qualidade dos programas no horário eleitoral de propaganda no rádio e na televisão, nos comícios, até mesmo nos rostos cada vez mais contrafeitos e agressivos de tucanos e democratas. Sem falar nas minguadas arrecadações para o caixa de campanha do ex-governador de São Paulo, na medida que o candidato desce a ladeira. Este, sem dúvida, um sinal vermelho em campanha nacional no país com as dimensões do Brasil.
Vejam, por exemplo, o caso baiano. O governador petista Jaques Wagner anunciou, com quase uma semana de antecedência, que o presidente Lula lhe havia garantido presença em Salvador ao lado da candidata “in pectore” à sua sucessão, Dilma Rousseff, no comício que varou a madrugada de ontem na Praça Castro Alves.
Foi o suficiente para a capital baiana praticamente virar um deserto de tucanos e democratas. Não havia buracos suficientes na cidade administrada pelo prefeito João Henrique Carneiro (PMDB), onde tanta gente em fuga pudesse se esconder de uma hora para outra, da mão pesada e dos olhos penetrantes na passagem do “rei” e sua “soberana” pela província.
Mesmo no PMDB do ex-ministro Geddel Vieira Lima, aliado nacional da candidata petista à presidência e ácido adversário de Jaques Wagner no estado, muita gente preferiu “tomar o caminho da roça” para se esconder. Ou fazer campanha no interior, a começar pelo candidato peemedebista a governador.
Ficou João, o prefeito, porque teria sido vergonhoso demais ele sumir de repente quando também o ministro das Cidades visitava Salvador para entregar “as chaves” e prometer mais recursos para o interminável metrô baiano, cuja primeira e única linha está em construção há 11 anos. Além disso, até os mais ingênuos dirigentes de PMDB estão convencidos de que João já caiu nos braços de Wagner há um bom tempo.
No comício de ontem, na Praça Castro Alves, uma cena das mais emblemáticas destes dias e desta campanha. Ao discursar, Lula faz suas escolhas eletivas no estado, com cortes de cirurgião consagrado. Ao governador petista a seu lado, atacado por Geddel na campanha, recomenda: “Não perca a calma, Wagner, quando os adversários estiverem babando de ódio”.
Depois o presidente pediu votos para eleger toda chapa majoritária de Wagner – os candidatos ao senado Lídice da Mata (PSB) e Walter Pinheiro (PT). No palanque Lula vê Otto Alencar (PP), fina flor do antigo carlismo baiano. Agora candidato a vice-governador na chapa petista, Otto veste uma camisa amarela da campanha petista com o “Wagner 13” escrito nas costas. Lula não perde a embalagem: “Companheiro Otto, não sabia que tu ias vestir essa camisa com tanta rapidez”, dispara o presidente. E a platéia ri do constrangido ex-seguidor de ACM.
Enquanto isso, na campanha e nos palanques de Serra, parece prevalecer a lei daquele motorista de caminhão do filme “Macunaima , o herói sem caráter”. Depois de despejar a leva de retirantes sem emprego e sem rumo na periferia da grande cidade o motorista avisa :”Agora é cada um por si e Deus contra”.
“É de pior a pior”, como no xaxado de Jackson do Pandeiro.
Vitor Hugo Soares é jornalista – E-mail: Vitor_soares1@terra.com.br
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