Pular para o conteúdo principal

Especialistas divergem sobre consumo de leite por adultos


Uol - Ciências

São Paulo - A classe dos mamíferos, os animais mais evoluídos da natureza segundo a biologia, tem mais de 6 mil grupos. E só um deles consome leite de uma espécie diferente da sua na fase adulta: o ser humano. O aspecto ético que envolve desde a exploração das vacas leiteiras para atender a demanda do consumo é tão polêmico quanto o fundamento científico sobre o tema. Se de um lado os reumatologistas criticam o baixo consumo de laticínios, de outro especialistas em nutrição enfatizam o potencial alergênico desses alimentos - acusados de estimular o desenvolvimento de várias doenças.

Mestre em nutrição clínica funcional pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), Daniela Jobst defende que o consumo de leite e de seus derivados está relacionado à constipação intestinal crônica. "Fiz um estudo sobre essa relação com 180 pacientes. Quando eles cortaram os laticínios da dieta houve uma melhora de 40% nos casos de constipação", relata "Quando se fala em alergias desencadeadas pelo leite as pessoas pensam apenas na intolerância à lactose, que é imediata, mas desconhecem as alergias tardias, representadas por estufamento abdominal, gases e obesidade", completa.

Na avaliação de Daniela, a dieta humana prescinde só do leite materno. "Crianças são as mais prejudicadas pelo superconsumo de laticínios, são as mais suscetíveis a alergias respiratórias e dermatites", diz. Segundo a nutricionista, o leite participa desse processo por ter um caráter mucogênico, ou seja: favorece a secreção de muco, que propicia a proliferação de germes. "Nos casos de celulite, por exemplo, que é um processo inflamatório, o papel agravante do leite é claro. Ele também interfere nos quadros de diabete do tipo I, por apresentar alto índice glicêmico."

Os argumentos contrários à ingestão de laticínios esbarram no fato de esses alimentos apresentarem elevada concentração de cálcio, elemento fundamental da nutrição saudável. "Não resolve comer um alimento rico em cálcio, é preciso que esse nutriente esteja biodisponível. Ingerir não é a mesma coisa que digerir e absorver. No caso do leite e de seus derivados a absorção de cálcio varia de 30% a 40%, índice que pode chegar a 90% para o tofu. O gergelim também é excelente fonte de cálcio, assim como o feijão", diz a nutricionista.

Osteoporose

Doutor em reumatologia pela Unifesp, o médico Marcelo Pinheiro discorda da restrição ao leite proposta por alguns profissionais da saúde. "A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda ingerir 1.200 miligramas por dia de lácteos, o que equivale a cinco porções. Cada porção corresponde, por exemplo, a um copo de leite ou a um iogurte. No Brasil o consumo é muito baixo, cerca de um terço do ideal, o que nos preocupa muito porque esses alimentos são as melhores fontes de cálcio da alimentação", avalia o médico.

Pinheiro explica que cálcio participa ativamente da formação do tecido ósseo, sendo imprescindível na infância e adolescência. "Quando não se forma esse reservatório de cálcio na juventude, uma poupança que será usada em idades mais avançadas, há mais chances de passar por algumas doenças na fase adulta, principalmente osteoporose", avalia o médico. Ele chegou a essa conclusão após conduzir um estudo sobre osteoporose com 2.400 pessoas, recrutadas nas cinco regiões do País.

Giuliana Reginatto

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Os Farrapos dos olhos azuis

Cláudio Ribeiro - Demitri Túlio, do Jornal O Povo, de Fortaleza A íris clara, azulzíssima em muitos deles, é a digital do povo Farrapo. Também é da identidade a pele branca avermelhada, carimbada pelo sol forte que não cessa em Sobral. Isso mais entre os que vivem na zona rural. Gostam de exaltar o sobrenome. É forte. Farrapo não é apelido. Não são uma etnia, mas são tratados assim. São “da raça dos Farrapos”, como nos disse quem os indicou a procurá-los. Os Farrapos têm história a ser contada. Praticaram a endogamia por muito tempo. Casamentos em família, entre primos, mais gente do olho azul de céu que foi nascendo e esticando a linhagem. Sempre gostaram de negociar, trocar coisa velha. São um pouco reclusos. Vivem sob reminiscências de judaísmo. Há estudo disso, mas muito ainda a ser (re)descoberto. Os Farrapos são citados, por exemplo, no livro do padre João Mendes Lira, Presença dos Judeus em Sobral e Circunvizinhanças e a Dinamização da Economia Sobralense em Função do Capital Ju...

Erros judiciários: Caso Mignonette - Estado de necessidade

A 5 de Julho de 1884 naufragou o iate inglês La Mignonette. Depois de vários dias no mar, o imediato, que era o mais jovem de todos, foi morto pelos companheiros, que mais tarde alegaram estado de necessidade perante o júri. Sustentaram que não teriam sobrevivido caso não se utilizassem do cadáver para matar a fome. O júri deu um "veredicto especial", reconhecendo apenas a matéria de fato, mas deixando a questão jurídica para que a corte superior decidisse. Lord Coleridge, um dos juízes superiores, disse, entre outras considerações, o seguinte: Conservar a própria vida é, falando em geral, um dever: mas sacrificá-la pode ser o mais claro e alto dever. A necessidade moral impõe deveres dirigidos não à conservação mas ao sacrifício da sua vida pelos outros. Não é justo dizer que há uma incondicionada e ilimitada necessidade de conservar a própria vida. Necesse est ut eam, non ut viram (é necessário que eu caminhe, não que eu viva) disse Lord Bacon. Quem deve julgar o estado de ...

Astronomia: Milhares de cometas escuros podem colidir com a Terra

Da Lusa - Agência de Notícias de Portugal Londres, (Lusa) - Milhares de cometas que circulam no sistema solar podem ser um perigo para a Terra, por serem indetectáveis, o que dificulta a antecipação de um eventual impacto, alertaram quarta-feira vários astrónomos britânicos. São cerca de três mil os cometas que circulam no sistema solar e apenas 25 podem ser avistados a partir da Terra, lê-se no artigo da revista "New Scientist", assinado por Bill Napier, da Universidade de Cardiff, e por David Asher, astrónomo do Observatório da Irlanda do Norte. "Devemos alertar para o perigo invisível mas significativo que são os cometas escuros", dizem os astronómos, explicando que um cometa fica escuro quando perde a cola brilhante. Desprovido desta substância, "o trajecto de um cometa que esteja em rota de colisão com o planeta Terra pode passar despercebido ao telescópio", afirmam Napier e Asher. Nos últimos séculos, o cometa de que há registo de ter passado mais pr...