da Folha de S.Paulo
Um grupo de paleontólogos apresentou ontem imagens do registro mais antigo da caminhada de um primata do gênero Homo, o mesmo dos humanos. Cinco conjuntos de pegadas achadas às margens do lago Turkana, em Ileret (Quênia), possuem 1,5 milhão de anos.
Um estudo das marcas feitas em areia e argila solidificadas, apresentado pelos cientistas na edição de hoje da revista científica "Science", indica que provavelmente as pegadas foram deixadas por alguém da espécie Homo erectus. Mas é também possível que quem tenha pisado ali fosse o Homo ergaster, ainda mais primitivo, afirmam os autores do estudo, liderados por Matthew Bennett, da Universidade de Bournemouth.
"[As pegadas] poderiam facilmente terem sido feitas hoje na praia", disse David Braun, da Universidade de Cape Town (África do Sul), sobre a perfeição das amostras.
"A comparação visual [dessa pegada] com os pés de outros primatas vivos ressalta óbvias diferenças", escrevem Robin Crompton e Todd Pataky, ambos da Universidade de Liverpool, em artigo de comentário feito para a própria "Science".
Segundo eles, as pegadas de Ileret servem para ajudar a explicar como o pé humano se tornou uma ferramenta de sobrevivência fundamental para o gênero Homo. Sua anatomia favorecia a vida sobre o chão --e não sobre as árvores-- o que reafirma um sinal distinto de adaptação evolutiva.
Mesmo com a última descoberta, porém, muitas lacunas evolutivas continuam a existir.
Enquanto hominídeos têm dedos curtos, por exemplo, e o dedão é alinhado com os demais, isso não é visto nos pés dos macacos. O mesmo vale para a marca que os pés humanos arqueados deixam sobre uma superfície mole, onde dedos e calcanhar afundam mais.
Toda a anatomia dos pés humanos, dizem os cientistas, é preparada para receber impactos sob os calcanhares e fazer leves impulsões com a parte da frente do pé --algo que qualquer atleta de fim de semana é capaz de perceber na prática.
Com base nas marcas encontradas em Ileret, os cientistas conseguiram reconstruir os pés que fizeram as pegadas e também fazer várias medidas com relação às marcas.
Sapato 39
A descoberta anunciada ontem é o primeiro grande marco nesse tipo de evidência paleontológica desde a apresentação de um conjunto de pegadas em Laetoli, na Tanzânia, há três décadas. Aquelas marcas, porém, com 3,6 milhões de anos, são provavelmente de membros da espécie Australopithecus afarensis, um primata que ainda não possuía muitas das características que afastaram os humanos dos macacos.
Apesar de já indicarem bipedalismo, as marcas de Laetoli apresentavam um arco estreito, e o dedão da espécie ainda não estava alinhado. Já as marcas do gênero Homo em Ileret --que mediam o equivalente a um pé de numeração 39-- se encaixam em dados anatômicos mais modernos.
Segundo Bennett e seus coautores, o surgimento de hominídeos com pernas mais longas foi uma importante alteração evolutiva. Os hominídeos de Ileret tinham cerca de 1,75 metro de altura, mais do que os australopitecos. A passos largos, passaram a gastar menos energia para transportar alimentos por grandes planícies.
Com uma maior gama de ambientes que eram capazes de ocupar e com mais adaptações anatômicas, os hominídeos começaram crescer em tamanho. Em paralelo, sua dieta também melhorou, escrevem os cientistas. Teria sido nesse contexto, portanto, que mudanças biológicas e culturais começariam a moldar aqueles que viriam dar origem aos homens modernos.
Um grupo de paleontólogos apresentou ontem imagens do registro mais antigo da caminhada de um primata do gênero Homo, o mesmo dos humanos. Cinco conjuntos de pegadas achadas às margens do lago Turkana, em Ileret (Quênia), possuem 1,5 milhão de anos.
Um estudo das marcas feitas em areia e argila solidificadas, apresentado pelos cientistas na edição de hoje da revista científica "Science", indica que provavelmente as pegadas foram deixadas por alguém da espécie Homo erectus. Mas é também possível que quem tenha pisado ali fosse o Homo ergaster, ainda mais primitivo, afirmam os autores do estudo, liderados por Matthew Bennett, da Universidade de Bournemouth.
"[As pegadas] poderiam facilmente terem sido feitas hoje na praia", disse David Braun, da Universidade de Cape Town (África do Sul), sobre a perfeição das amostras.
"A comparação visual [dessa pegada] com os pés de outros primatas vivos ressalta óbvias diferenças", escrevem Robin Crompton e Todd Pataky, ambos da Universidade de Liverpool, em artigo de comentário feito para a própria "Science".
Segundo eles, as pegadas de Ileret servem para ajudar a explicar como o pé humano se tornou uma ferramenta de sobrevivência fundamental para o gênero Homo. Sua anatomia favorecia a vida sobre o chão --e não sobre as árvores-- o que reafirma um sinal distinto de adaptação evolutiva.
Mesmo com a última descoberta, porém, muitas lacunas evolutivas continuam a existir.
Enquanto hominídeos têm dedos curtos, por exemplo, e o dedão é alinhado com os demais, isso não é visto nos pés dos macacos. O mesmo vale para a marca que os pés humanos arqueados deixam sobre uma superfície mole, onde dedos e calcanhar afundam mais.
Toda a anatomia dos pés humanos, dizem os cientistas, é preparada para receber impactos sob os calcanhares e fazer leves impulsões com a parte da frente do pé --algo que qualquer atleta de fim de semana é capaz de perceber na prática.
Com base nas marcas encontradas em Ileret, os cientistas conseguiram reconstruir os pés que fizeram as pegadas e também fazer várias medidas com relação às marcas.
Sapato 39
A descoberta anunciada ontem é o primeiro grande marco nesse tipo de evidência paleontológica desde a apresentação de um conjunto de pegadas em Laetoli, na Tanzânia, há três décadas. Aquelas marcas, porém, com 3,6 milhões de anos, são provavelmente de membros da espécie Australopithecus afarensis, um primata que ainda não possuía muitas das características que afastaram os humanos dos macacos.
Apesar de já indicarem bipedalismo, as marcas de Laetoli apresentavam um arco estreito, e o dedão da espécie ainda não estava alinhado. Já as marcas do gênero Homo em Ileret --que mediam o equivalente a um pé de numeração 39-- se encaixam em dados anatômicos mais modernos.
Segundo Bennett e seus coautores, o surgimento de hominídeos com pernas mais longas foi uma importante alteração evolutiva. Os hominídeos de Ileret tinham cerca de 1,75 metro de altura, mais do que os australopitecos. A passos largos, passaram a gastar menos energia para transportar alimentos por grandes planícies.
Com uma maior gama de ambientes que eram capazes de ocupar e com mais adaptações anatômicas, os hominídeos começaram crescer em tamanho. Em paralelo, sua dieta também melhorou, escrevem os cientistas. Teria sido nesse contexto, portanto, que mudanças biológicas e culturais começariam a moldar aqueles que viriam dar origem aos homens modernos.
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