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Estamos no ano de 2010...

Holger Madsen

Não tem jeito. O ano de 2009 ainda não acabou, mas ao menos em política, já estamos vivendo o ano de 2010. Todas as peças que são mexidas no tabuleiro político têm a eleição de outubro do ano que vem como pano de fundo. E ao menos até agora, o PSDB está em situação amplamente vantajosa em relação ao PT.

Do lado governista, a coisa anda complicada. Para manter a governabilidade no fim de seu segundo mandato, Lula se vê obrigado a apoiar Sarney, sustentando-o na presidência do Senado. Assim, vai contra a opinião de 8 em cada 10 brasileiros. Como Sarney não cai, o presidente segue se desgastando, num martírio que já dura cinco meses. Dilma, a candidata do PT para 2010, está com sua atenção totalmente voltada para o tratamento do câncer que lhe acometeu, e não consegue investir no crescimento de sua candidatura. Apesar de ser pouco conhecida, a resistência ao seu nome já é maior que a resitência ao nome de José Serra, seu adversário mais provável... Mercadante, figura importante dentro do PT, foi desautorizado publicamente por Lula por ter defendido a saída de Sarney. Marina Silva, outro nome de peso do partido, está de malas prontas. Deve desembarcar no PV ainda neste mês. E se não bastasse todos esses problemas, o governo ainda terá um desgate extra, proporcionado pela CPI da Petrobrás... Lula, ao olhar para um lado, vê Renan Calheiros e Sarney. Ao olhar para o outro, vê Collor. Não poderia ser mais melancólico o fim de seu governo.

Por outro lado, o PSDB navega em águas calmas. A disputa entre Serra e Aécio, verdadeiro barril de pólvora em outros tempos, parece estar resolvida. O PSDB adulou Aécio, prometendo a ele a chance de disputar prévias internas. O mineiro se acalmou, e hoje troca elogios com Serra, repetindo a todo instante que os dois estarão unidos em 2010. Aécio é peça fundamental para Serra, na medida em que é visto por boa parcela do eleitorado como uma figura mais próxima de Lula, do PT e dos esquerdistas em geral. Portanto, rouba votos diretamente do adversário.

Antigos desafetos se aproximaram, por motivos diferentes. Ciro é simpático a Aécio, o que pode ajudar. Marina Silva também. Cristóvam gosta de Serra, e a insistência de Sarney em ficar na presidência do Senado o aproximou ainda mais do projeto tucano. Gabeira já se aproximara do PSDB na eleição de 2008, quando encabeçou chapa para a prefeitura do Rio tendo um tucano como vice. Esquerdistas tradicionais, estes nomes se alinham com o PSDB em um momento decisivo... E o jogo assim é desenhado. Quanto mais forte a candidatura do PSDB fica, mais apoio ela recebe. E quanto mais apoio, mais forte ela fica.

É provável que a economia não incomode o PT para 2010. Afinal, a crise dá sinais de que os momentos mais difíceis podem ter ficado para trás. Mas se não atrapalhará, ela certamente também não ajudará. O ano de 2010 deve ser de recuperação, sem crescimento espetacular. Sem a economia a render votos, cabe ao PT administrar seus problemas internos, e urgentemente. Caso contrário...

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