Gutierres Siqueira
Uma nova surpresa se desenha na disputa presidencial. A senadora Marina Silva (PT-AC) pode se candidatar a presidência da República. O Partido Verde (PV) vem fazendo convites para que a acreana faça parte da legenda e se candidate ao maior posto do país. Nessa sexta-feira Mariana Silva está em Rio Branco com a família e amigos, pronta a decidir se deixa ou não, os trinta anos de militância política no Partido dos Trabalhadores (PT).
Marina Silva foi analfabeta até os 14 anos, depois se tornou professora universitária. Conhecida como ambientalista, ao lado de Chico Mendes, é uma pessoa muito respeitada pela suas posições “verdes”. Já recebeu vários prêmios, como Champions of the Earth (Campeões da Terra), concedido pela ONU (Organização das Nações Unidas). Eleita senadora pelo Acre, foi ministra do meio ambiente no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva até o início de 2008, sendo substituída pelo ministro Carlos Minc. Considerada pelo jornal inglês The Guardian como uma das cinquenta pessoas que podem salvar o planeta.
Como ministra, Marina não se envolveu com nenhum escândalo de corrupção do governo Lula, nem mesmo nos famosos “cartões corporativos”. Nesses anos sempre tem demonstrado insatisfação com o governo petista, falando abertamente de suas divergências e expondo os atritos com a cosmovisão da ministra Dilma Rousseff. Mais recentemente participou do pequeno grupo de senadores do PT que não apoiaram a permanência do senador José Sarney na presidência da casa.
Marina Silva tem chances?
Certamente será muito difícil Marina Silva ganhar essas eleições, caso aconteça à candidatura. Agora, certamente essa candidatura seria um grande prejuízo para a candidata do PT. Marina tiraria muitos votos de Dilma Rousseff, mas do que de José Serra. A jornalista Maria Cristina Fernandes, na edição de hoje do Valor Econômico, lembra que “numa campanha que ameaçava ser polarizada em dois perfis tecnocratas, Marina ocupa o lugar da utopia. Aquele que um dia foi de Lula”.
A candidata dos evangélicos?
No ano de 2002, em uma atitude um tanto ufanista e triunfalista, os evangélicos em peso apoiaram a candidatura de Anthony Garotinho, o então conhecido governador do Rio de Janeiro. Garotinho aproveitou bem a unidade inédita das denominações na época. O então candidato evangélico perdeu ainda no primeiro turno e depois caiu em decadência política.
Dificilmente Marina Silva seguiria o mesmo caminho de Garotinho. Marina é uma pessoa de posições mais firme e menos pragmática. Talvez ela não vá buscar freneticamente a bênção dos caciques das grandes denominações evangélicas. Marina Silva é membro da Assembleia de Deus da L2 Sul, em Brasília. Naturalmente, muitos evangélicos se mobilizarão para a sua candidatura.
Naturalmente os evangélicos que ajudaram a eleger Lula, poderiam transferir seus votos para Marina. Mariana encontraria apoio no meio pentecostal, assim também entre protestantes autodenominados “progressistas”, que normalmente militam em movimentos de esquerda. O Partido Verde, do qual Marina pode se filiar é um partido de centro esquerda, que agrega personalidades extremamente libertárias como Fernando Gabeira. Mariana Silva é o protótipo dos evangélicos na política, pois apesar da visão de mundo conservadora, optam paradoxalmente pelos partidos de esquerda.
Polêmicas
Marina Silva casou muita polêmica ao defender o ensino do criacionismo nas escolas. Marina também é criticada pela sua militância exagerada no meio ambiente, o que impediria qualquer avanço econômico no país devido à burocracia verde. Tanto Marina, quanto seus críticos na verdade estão promovendo o interminável debate de “crescimento sustentável”. Apesar de ser de esquerda, ela não apresenta um discurso populista, o que poderia afastar alguns eleitores imediatistas, que pensam em benefícios para o presente e não refletem muito sobre o futuro.
Fato é, caso ela ganhe, seria um acontecimento inédito uma presidente mulher, evangélica pentecostal, ambientalista e de origem extremamente pobre, advinda de um estado pequeno.
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