Pular para o conteúdo principal

Disputas na Câmara e Senado viram ensaio de 2010

Lula Marques/Folha

O tucano José Serra e a petista Dilma Rousseff não dispõem de mandatos legislativos. Ele, como se sabe, governa São Paulo. Ela chefia a Casa Civil.

Mas todas as peças do xadrez em que se converteu a disputa pelos comandos da Câmara e do Senado são movidas em função dos interesses de Serra e Dilma.

No centro do tabuleiro encontra-se o PMDB. Sem um nome competitivo para 2010, o partido serve-se da corte que lhe fazem petistas e tucanos.

No Senado, medem forças José Sarney (PMDB) e Tião Viana (PT). São dois aliados de Lula. Mas o presidente optou por lavar as mãos.

E a definição da arenga que convulsiona o consórcio governista depende agora dos humores do oposicionista PSDB. A legenda de Serra foi convertida em fiel da balança.

Em conversa com o ministro José Múcio, coordenador político de Lula, o senador Sérgio Guerra (PE), presidente do PSDB, resumiu o drama do tucanato.

Guerra disse a Múcio que Tião faria mais pela recuperação da imagem do Senado do que Sarney. Mas indagou: "Quem vai ficar com a gente em 2010, o PMDB ou o PT?"

Fechado com a candidatura presidencial de Serra, o também oposicionista DEM planeja despejar votos em Sarney. E empenha-se para arrastar o PSDB para a empreitada.

Na última segunda (19), Serra recebeu no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB).

O presidenciável tucano derramou-se em elogios ao petista Tião Viana. Três dias antes, Serra conversara, pelo telefone, com o próprio Tião. Combinaram um encontro.

Serra é desafeto de Sarney. Desentenderam-se em 2002, ano em que uma operação da PF transformara em pó a candidatura presidencial de Rosena Sarney.

Pai da ex-presidenciável, Sarney enxergara as digitais de Serra na operação policial. A despeito das negativas, a relação entre os dois desandou.

Na Câmara, Serra ajudou a empurrar o PSDB para dentro da campanha de Michel Temer, candidato do PMDB à presidência da Casa.

No Senado, o governador não parece convencido de que a associação com Sarney seja bom negócio. Daí o interesse do petista Tião Viana em conversar com Serra.

Dividida entre Sarney e Tião, a bancada de 13 senadores do PSDB converteu-se em fiel da balança no Senado. E Tião imagina que Serra pode operar a seu favor.

O problema é que, além de Sérgio Guerra, também o líder do tucanato no Senado, Arthur Virgílio (AM), pende para Sarney.

Dos EUA, onde se encontra, Virgílio telefonou para José Agripino Maia (RN), líder do DEM. Disse que defenderá na bancada tucana a opção por Sarney.

Virgílio estimou que, sem os senadores do PSDB, Sarney já disporia de 37 votos. Estaria a quatro votos do placar que assegura a vitória: 41.

O cálculo é otimista. Desconsidera as defecções de senadores do PMDB e do DEM, que prometeram voto a Tião. Mas num ponto Virgílio está certo.

Os votos do PSDB decidirão a disputa no Senado. Algo que deixa Tião em situação dicotômica. Petista, ele passou a depender dos votos tucanos para se manter vivo na disputa.

Em parte, deve-se a Lula o constrangimento imposto a Tião. O presidente poderia ter pedido a Sarney que se eximisse de disputar. Preferiu, porém, não fazê-lo.

Sarney e Lula conversaram na última segunda (19). Em quatro conversas anteriores, Sarney dissera que não seria candidato. Nesta última, informou ter mudado de idéia.

Em reunião com os ministros que integram a coordenação de governo, nesta terça (20), Lula relatou o teor do diálogo fatídico da véspera.

Dissera a Sarney que respeitaria a decisao dele. Não pediria a Tião Viana que se retirasse da disputa. Mas tampouco encareceria a Sarney que não fosse à sorte dos votos.

Com esse gesto, Lula açulou a suspeita de que estaria puxando o tapete de Tião, a quem já declarara apoio.

Ouvido pelo blog, um ministro do PMDB, o partido de Sarney, soou aturdido. Disse que, a pedido de Lula, trabalhava, no Senado, pelo petista Tião.

Agora, está convencido de que o presidente joga a favor do duplo comando do PMDB no Congresso -Temer na Câmara e Sarney no Senado.

Com essa equação, disse o ministro, o PMDB estaria como que obrigado a atender aos apelos de Lula para associar-se à candidatura presidencial de Dilma Rousseff.

Confrontado com a supeita de que Lula o teria rifado, Tião não se deu por achado. "Tenho certeza de que, se fosse senador, Lula votaria em mim..."

"...Além disso, sou grato ao presidente pelo que fez e faz pelo Brasil, não pelo que possa vir a fazer por mim".

Alheio aos desencontros de Lula com o petismo, Agripino Maia, o líder do DEM, move-se para atrair o tucano José Serra para o "projeto Sarney".

Conversou pelo telefone com o ex-senador Jorge Bornhausen (DEM-SC), espécie de fiador dos entendimentos da tribo dos 'demos' com Serra.

Bornhausen ficou de conversar com FHC, presidente de honra do tucanato. Ficou de acionar também o prefeito 'demo' Gilberto Kassab, unha e cutícula com Serra.

Tenta-se armar um cerco a Serra, para convencê-lo de que é melhor ter no Senado um Sarney aberto ao diálogo com a oposição do que um Tião incondicionalmente alinhado ao Planalto.

De sua parte, Lula esforça-se agora para que a confusão do Senado não contamine a Câmara. Marcou para o final de semana que vem um café com os deputados do PT.

Pretende pedir-lhes que, a despeito da trama urdida por Sarney contra Tião, não deixem de honrar o compromisso firmado com Michel Temer.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Astronomia: Milhares de cometas escuros podem colidir com a Terra

Da Lusa - Agência de Notícias de Portugal Londres, (Lusa) - Milhares de cometas que circulam no sistema solar podem ser um perigo para a Terra, por serem indetectáveis, o que dificulta a antecipação de um eventual impacto, alertaram quarta-feira vários astrónomos britânicos. São cerca de três mil os cometas que circulam no sistema solar e apenas 25 podem ser avistados a partir da Terra, lê-se no artigo da revista "New Scientist", assinado por Bill Napier, da Universidade de Cardiff, e por David Asher, astrónomo do Observatório da Irlanda do Norte. "Devemos alertar para o perigo invisível mas significativo que são os cometas escuros", dizem os astronómos, explicando que um cometa fica escuro quando perde a cola brilhante. Desprovido desta substância, "o trajecto de um cometa que esteja em rota de colisão com o planeta Terra pode passar despercebido ao telescópio", afirmam Napier e Asher. Nos últimos séculos, o cometa de que há registo de ter passado mais pr

Os Farrapos dos olhos azuis

Cláudio Ribeiro - Demitri Túlio, do Jornal O Povo, de Fortaleza A íris clara, azulzíssima em muitos deles, é a digital do povo Farrapo. Também é da identidade a pele branca avermelhada, carimbada pelo sol forte que não cessa em Sobral. Isso mais entre os que vivem na zona rural. Gostam de exaltar o sobrenome. É forte. Farrapo não é apelido. Não são uma etnia, mas são tratados assim. São “da raça dos Farrapos”, como nos disse quem os indicou a procurá-los. Os Farrapos têm história a ser contada. Praticaram a endogamia por muito tempo. Casamentos em família, entre primos, mais gente do olho azul de céu que foi nascendo e esticando a linhagem. Sempre gostaram de negociar, trocar coisa velha. São um pouco reclusos. Vivem sob reminiscências de judaísmo. Há estudo disso, mas muito ainda a ser (re)descoberto. Os Farrapos são citados, por exemplo, no livro do padre João Mendes Lira, Presença dos Judeus em Sobral e Circunvizinhanças e a Dinamização da Economia Sobralense em Função do Capital Ju

Erros judiciários: Caso Mignonette - Estado de necessidade

A 5 de Julho de 1884 naufragou o iate inglês La Mignonette. Depois de vários dias no mar, o imediato, que era o mais jovem de todos, foi morto pelos companheiros, que mais tarde alegaram estado de necessidade perante o júri. Sustentaram que não teriam sobrevivido caso não se utilizassem do cadáver para matar a fome. O júri deu um "veredicto especial", reconhecendo apenas a matéria de fato, mas deixando a questão jurídica para que a corte superior decidisse. Lord Coleridge, um dos juízes superiores, disse, entre outras considerações, o seguinte: Conservar a própria vida é, falando em geral, um dever: mas sacrificá-la pode ser o mais claro e alto dever. A necessidade moral impõe deveres dirigidos não à conservação mas ao sacrifício da sua vida pelos outros. Não é justo dizer que há uma incondicionada e ilimitada necessidade de conservar a própria vida. Necesse est ut eam, non ut viram (é necessário que eu caminhe, não que eu viva) disse Lord Bacon. Quem deve julgar o estado de